TEXTICULOS sao relatos explicitos de tudo aquilo que estava implicito. Nao saia desse blog antes de deixar um comentario. Mesmo que seja para me mandar a merda. Valeu.

Thursday, October 12, 2006

Urubus de Pescoco Pelado

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Os meninos olhavam curiosos para o homem que andava pela estrada com um saco nas costas. A mae, quando viu o homem, correu pegar os meninos no colo e os trouxe, afobada, pra dentro de casa. Nao demorou mais que cinco minutos para a policia chegar. O homem seguia pela estrada como sempre fazia. A policia quase o atropelou com a viatura. Os guardas arrancaram o saco de suas costas e lhe bateram muito. Depois sairam cantando os pneus da viatura. O homem, sangrando, se levantou e comecou vagarosamente ensacar as coisas espalhadas ao lado da estrada: um cobertor, um panelao sem tampa, um pe de chinelo, um pao, um pedaco de papelao e um livro sem capa. Tudo muito empoeirado. O homem deu um sorriso quando viu que a polica havia rasgado em pedacinhos uma velha fotografia, a unica coisa que o ligava ao mundo de onde ele vinha. Por isso, caiu morto. Os urubus de pescoco pelado, saltitavam sobre o asfalto quente que fritava a carne que comiam.

Wednesday, October 11, 2006

O Chutador de Baldes

26

Poim…poim…poim…! O que ele mais gostava era de chutar baldes. Nao importava o que eles tinham dentro. Nao importava a cor ou a forma. Bastava ser um balde pra ele chegar e meter o pe. Poim! Um dia, o levaram ate um medico. Exames clinicos, laboratorios e todos os outros tipos de exames que alguem possa suportar na dosagem maxima dos raios Xs e raios Zs. Nada. Nada de errado com ele. Uma serie de exames psicologicos com investidas em seu subconciente e nas zonas mais escuras das profundezas de seu cerebro. Nada. Tudo normal. Mesmo assim o internaram por muitos anos. Quando saia do hospicio chutou o primeiro balde de lixo que estava do lado da porta. E assim continuou sua vida de chutador de baldes. Envelheceu chutando baldes. Morreu, depois de muitos anos, vitima de uma inflamacao, embaixo da unha do dedao, contraida no metal contaminado do ultimo balde que chutara na favela da Boa Esperanca, aonde vivia. Poim…foi sua ultima palavra.

Unica Palavra

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O poeta Mellarme’ estava em busca de um verso que tivesse uma unica palavra. Um unica palavra que serviria para exprimir todo o sentimento e toda emocao que um verso deveria ter. Um vocabulo que fosse ao mesmo tempo verdadeiro, colossal, magnanimo, estupendo, franco, honesto, abrangente, delicado, sublime e que rimasse consigo mesmo e com todo o universo de rimas existentes em todos os versos do mundo. Nessa epoca ele estava vivendo o paroxismo de sua demencia poetica. Uma busca insana e dolorosa que acabou em nada, como nao poderia deixar de ser. Tempos depois, seu filho, o Mellarmezinho, estava no meio de um jantar de familia. A avo' percebendo que ele estava o tempo todo calado, chamou a sua atencao: “O menino! Porque esta tao quieto? Fala alguma coisa...” E diferente de Mellarme’, o menino, num atimo, talvez inspirado naquela alegre reuniao familiar, achou o verso de uma unica palavra e a disse com a entonacao e a simplicidade que somente o filho de um grande poeta a diria: “Cu”. Achou, Mellarme’?

Maria

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“Ficou bom?”, pergunta a mulher para o diretor. “Ficou uma bosta. O babaca do cameraman focalizou o seu rosto. Eu disse que deveria da um zoon nos seus peitos. Vamos rodar de novo.” “Sei nao,” disse a mulher. E que quando apagam as luzes esse cara vem que nem louco em cima de mim… nao estou gostando disso.” “Sei nao?” “ Nao esta gostando? Ora bolas…Se nao for assim o filme perde a forca. Quero que tudo seja expontaneo.” “Mas que forca? Se a luz esta apagada e nao da pra ver nada do que estao filmando?” “Vamos fazer o seguinte? Voce faz sua parte bem feita e cuidamos do resto.” “Nao da nao. Nao acredito nessa historia do genesis dessa maneira. Eu aprendi no meu catecismo que o genesis foi uma coisa bonita…uma luz que atravessava o universo escuro e vazio. Agora vem esse cara querendo abusar de mim enquanto a luz esta apagada. E nao quero o zoon em lugar nenhum a nao ser no meu rosto. Meu nome e Maria, nao se esquecam disso: M A R I A.”

A mesma borracha

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Voce e ateu? Nao? Acredita em Deus? Acredita que Deus e um ser superior? Um ser que esta acima de nosso conhecimento? Um ser que comanda toas as forcas do universo? Majestade? Onipresente? Onipotente? Onupresente? Onitudo? Comanda tudo? Entao, ele comanda as desgracas da humanidade? Comanda as doencas? Comanda os exercitos? As injusticas? Os desvios? Comanda os homens poderosos? Comanda as igrejas? Comanda os fieis? Comanda os ateus? Comanda a internet? Comanda o microsoft word aonde se pode mergulhar de cabeca na tela e seguir ate o inferno que ele tambem comanda? Comanda meu teclado? Comanda minha cabeca? Comanda minhas maos? Entao ele tambem comanda minha letra que sai toda torta quando bebo e tento teclar alguma coisa. No dia seguinte, entendo porque minha tela esta cheia de cuspe riscado com meu dedo quando tentei apagar as ideias embriagadas que escrevi ontem a noite. A mesma borracha que Dante usava.