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Estive lendo o Ze Simao. Poeta. E bom poeta. Parece que as suas rimas nao escorregam em seus versos.? Nao entendi. Explico-me. Parece que existe uma afinidade unica, intrinsica, como se existisse uma gosma melecada em um escorregador. Um liso escorregador mas que nao escorrega. Pode? Pode. Como se uma lesma descendo nesse escorregador. Ela deveria escorrregar, porque tudo escorrega na superficie lisa, mas, ao contrario, a lesma se segura mesmo sem ter maos. Imagino a gosma melecando sua barriga. A gravidade puxa a lesma para baixo mas ela nao desce. Da mesma forma, os versos do Simao nao vao assim de supetao. Eles ficam parados na rampa lisa de nossa imaginacao e somente depois de salgar a lesma, esperar que o sol a seque, e que sua carcaca comeca a descer, devagar, deixando a gravidade ficar convencida de seu poder. Mas, no final das contas, quando seus versos descem como carcaca de lesma, suas ideias sobem junto com as volatilidades que secam ao sal e ao sol do deleite desse poeta desequilibrado em tudo aquilo que escreve. Nao sei se era bem isso que eu queira dizer. Xi. Acho que si enrolei.