TEXTICULOS sao relatos explicitos de tudo aquilo que estava implicito. Nao saia desse blog antes de deixar um comentario. Mesmo que seja para me mandar a merda. Valeu.

Saturday, January 13, 2007

Uma Bonita Perua

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O menino queria ser pretinho. Por isso ficava o dia todo no sol. Quando tinha que por a camisa para ir para a escola ficava muito contrariado. Sua mae lhe perguntou se nao tinha medo de ficar pretinho e ele disse que isso era exatamente o que queria. Queira ser um jogador de futebol e por isso tinha que ser pretinho. Os branquinhos podiam ser bons jogadores mas nao tinham a cor dos melhores jogadores. A mae lhe falou que ser branquinho era melhor. Que devia agradecer a deus por ser branquinho. Lembrou o caso do cantor de rock que tinha feito umas mil cirurgias pra ficar branquinho e por isso ficou meio tonto da cabeca. Lembrou que os pretinhos eram proibidos de muitas coisas so por serem pretinhos. Que deus escolheu as pessoas para serem branquinhas e outras pessoas para serem pretinhas. Fazer o contrario da vontade de deus era pecado. O menino nao acreditou e insistiu que queria jogar no time de futebol dos pretinhos mas sob a proibicao da mae, decidiu sair pela rua a procura de um animal que pudesse ser sua namorada. Dessa forma ficaria vingado de sua mae. Nao demorou muito para achar uma bonita perua. O dia de pascoa estava chegando e por isso deduziu que um ajudante de deus deveria estar escolhendo quem seria ressuscitado branquinho e quem seria ressuscitado pretinho.

Maconhamento Excessivo ( Fabulas Fabulosas 6 )

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Apesar dos olhos grandes e saltados, a lagartixinha nao enchergava direito. Toda vez que precisava alcancar uma borboletosa era um sacrificio. Sua lingua ou ia na direcao da sombra da borboleta ou mal pegava pela ponta das asas e assim as elas escapavam ilesas. Por isso a lagartixinha comecou a passar fome e a emagrecer. Ficou anemica e passou a falar baixinho e devagar. Nao tinha forcas para nada e por isso suas calcas comecaram a cair e os cabelos cresceram atras das orelhas e na palma de suas maos. O seu pai ficou sismado e furioso: “Esse menino deve estar fumando uma maconha danada!” pensou com seus botoes. E assim foi ate que um dia a lagartixinha sem poder andar, caiu de cama. O medico examinou a lagartixinha com todo o cuidado e confidenciou ao pai a sua suspeita. Aquilo era o sintoma de maconhamento excessivo! O seu lagartixo ficou injuriado. Pegou a lagartixinha pelos pes e a derrubou do buraquinho do forro em cima do prato de sopa do pai do menino que levou um susto enorme. No dia seguinte o homem chamou a dedetizadora para acabar de vez com a vida daquelas nojentas lagartixas que estavam infernizando sua casa e as suas vidas. Quando terminou sua estoria o colombiano enchugou as lagrimas dos olhos. Ninguem disse uma so palavra na cela quente e abafada no fundo da prisao em que estavam.

O Buraquinho no Muro 2 ( Fabulas Fabulosas 5 )

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Quando a lesma viu o menino se aproximar com a mao cheia de sal tentou entar no buraquinho do muro o mais rapido que conseguia. Mesmo assim, uns graozinhos de sal lhe grudaram na pele das costas e queimaram muito e a fizeram derramar lagrimas de dor. O menino ficou pocesso. Como a lesma havia conseguido escapar de sua gana de salga-la? Ela talvez tivesse escorregado na sua meleca enquanto ele achava que a tinha sob controle. Merda! Mas, mesmo assim nao desistiu. Foi ate a construcao do lado de sua casa e pegou um bom tanto de massa de cimento. Sorria satisfeito enquanto fechava para sempre aquele buraquinho idiota. A lesma se encolheu em seu cantinho vendo a escuridao tomar todo aquele pequeno espaco. Deitou-se sobre sua meleca e descansou a noite toda. No outro dia, andou por entre os vaozinhos dos tijolos ate chegar no outro buraquinho no muro. O menino, que nao era bobo nem nada, havia esparramado sal por toda a extensao do muro. A lesma concluiu que ela era a mais detestavel das criaturas quando soube que aquele menino se tornaria um filantropo medico e que passaria sua vida inteira fazendo caridade e cuidando do bem estar das pessoas.

Ai, Pintou Uma Ideia.

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Olav Bilac perdeu os oculos. Era o comeco da temporada de provas na faculdade de direito e sem seus oculos ele nao podia nem sair de casa. Fiocu muito preocupado e resolveu ligar para o diretor da escola. O diretor foi implacavel. Disse a Bilac que Beto Owen ficou surdo e nem por isso deixou de compor. Que o cego Adalgisio pintou seus melhores quadros sem enchegar nada. Por isso, da mesma forma, Bilac tinha que fazer as provas da melhor maneira que pudesse. Bilac ficou indignado. Nao era Beto Owen. Nem muito menos Adalgisio. Pensou em mandar seu irmao gemeo em seu lugar mas o seu irmao era um cachaceiro e nao saberia responder as questoes da prova e, alem disso, nao usava oculos. Pensou em desistir da faculdade e escrever um manifesto contra o diretor mas ponderou que os colegas que nao gostavam dele iriam impugnar a peticao. Pensou que o mundo estava errado e que os deuses conspiravam contra ele. Nao tinha saida. Tinha que enchergar para fazer as provas. Ai, pintou uma ideia. Uma boa ideia. Ele era uma pessoa muito inteligente e por isso talvez se tornaria um grande poeta. Sorriu. Tentou escrever umas linhas mas as palavras se embaralhavam em sua cegueira. Sorriu de novo e abracou o seu ursinho de pelucia antes de dormir. Ele era apenas Olav Bilac.