TEXTICULOS sao relatos explicitos de tudo aquilo que estava implicito. Nao saia desse blog antes de deixar um comentario. Mesmo que seja para me mandar a merda. Valeu.

Tuesday, December 26, 2006

Incrivel Banda

49
Fanfarra era como chamava a banda do colegio. Achava que esse nome vinha da mistura de “fun”, palavra do ingles que queria dizer prazer, e “farra”, palavra do portugues que queria dizer algazarra. Sabia nao. Naquele tempo, quando estavam sem os instrumentos, imitavam a fanfarra com um desafinado vocal. Era mais ou menos assim: comecavam pela zabumba grave e seria: “bundao... bundao... bundao”...depois, entrava a caixinha de guerra: “toma limonada pra caga de madrugada... toma limonada pra caga de madrugada...” e num tom um pouco mais grave, como se fosse uma resposta, “toma purgante pra caga bastante ... toma purgante pra caga bastante...” Depois entravam os surdos: “o bate cu bate culhao, pisca o cu balanga o saco ... o bate cu bate culhao pisca o cu balanga o saco...” e por cima disso tudo, a caixinha de repique com o seu delicado “caralhinho ... caralhinho ... caralhinho...” Depois com a base pronta entravam os metais fazendo a base: “quero caga nao posso... quero caga nao posso...” e finalmente os metais no solo: ‘um gato sargento, mordeu meu saco, sargento, ranco pedaco sargento, ai ai que doooor... um gato sargento...etc” Tinha saudade da banda. As vezes, propunha a alguns amigos ensaiar de novo essa incrivel vocalizacao, para quem sabe, em uma ocasiao especial, por exemplo no Natal, pudessem parar em frente a matriz de N.S. do Perpetuo Socorro e, com os seus gorrinhos vermelhos de pom pom, soltar as alegres vozes, misturadas com gargalhadas, como faziam quando eram mais inocentes e muito, muito, mais felizes.

Resposta Imunitaria ( Fabulas Fabulosas 4 )

48
O bacterio bateu o telefone. Estava muito bravo e por isso sentou na mesa para o jantar sem muito apetite. Ele tinha uma bacteria esposa e tres bacterinhas filhas. O bacterio pensava que a injustica era um mal dos homens. Que as bacterias saprofitas responsaveis pela producao de vitaminas e acidos graxos de cadeia curta, degradacao das substancias alimenticias nao digeridas, integridade do epitelio intestinal, estimulo da resposta imunitaria e etc, nao poderiam serem chamadas pelo apelido feminino de “Flora”. Eles eram um exercito a servico dos homens. E por isso estavam lutando pelos seus direitos. Estavam pensando em fazer uma greve de fome e deixar todo o mundo com desinteria, das bravas, ate que resolvessem chama-las por um nome mais adequado. Estava perdido nessas elocubracoes quando uma de suas filhas deixou escapar um sonoro arroto que balancou a mesa e fez estremecer e tremer a barriga toda. Imediatamente, o bacterio, indignado, mandou que a filha saisse daquele intestino para sempre. A bacteria filha encheu sua trouxinha com duas calcinhas e um chinelo de dedos e, sob o olhar triste de sua mae e de suas irmas, desceu na primeira leva que saia com destino ao exterior desconhecido e perigoso. O lugar que ela sonhava em viver livre e independente do chato de seu pai.

A Lavagem dos Ultimos Dias ( Fabulas Fabulosas 3 )

47
O porco pediu ao homem que lhe desse uma boa dose de elexir palegorico misturado na lavagem porque ele estava com uma desinteria muito forte e nao estava conseguindo dormir direito a noite. O homem olhou pra o porco ressabiado e achou que ele estava com malandragem pois conhecia aquele porco muito bem. O porco raspou a garganta e continuou falando que acreditava que a lavagem dos ultimos dias tinha resto de carne de porco misturada com restos de arroz e feijao e que isso, alem de se caracterizar como um canibalismo, involuntario, mas da mesma forma inadmissivel, resultava na possibilidade de uma reacao organica degenerativa, nao so sacrificando o atual rebanho como tambem pondo em risco as futuras geracoes que poderiam se contaminar nesse ciclo indesejado e, por isso, contraproducente. Aproveitou e advertiu o homem para o risco da lavagem estar contamindada com produtos inorganicos que poderiam introduzir males maiores para a populacao do chiqueiro como a gripe aviaria e o mal da vaca louca alem de outras doencas ainda nao catalogadas. O homem, preocupado, foi a farmacia a procura do elexir palegorico porque ficou na duvida se o porco tinha realmente dito aquilo tudo ou se a televisao estava mexendo com seus nervos.

Satisfacao

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Deus chegou me empurrando bateu com as duas maos no meu peito exigindo satisfacao afinal quem eu pensava que eu era que podia escrever coisas que ele nao merecia que se alguem tinha o direito de estar no iate ou na penitenciaria era um prolema seu e eu nao estava autorizado a escrever sobre isso e mais que isso ficar dando corda para a capeta que nessas horas perdia a nocao do ridiculo e ficava azucrinado com ele e com todo mundo so porque ela nao sabe e nao conhece os misterios profundos da natureza e se acha dona da verdade aquela assanhada que nao se pode confiar ainda mais com esse pensamento de que os ricos sao os donos do inferno pois se o ceu exite e o paraiso e tao dificil aqui na terra como eles podem pensar que nao estao no inferno dentro de um iate ou dentro de todos os iates que rodam os mares azuis do caribe que por sinal esse mar tinha sido feito por ele no tempo ainda que nao existia nem a capeta nem os escritores mais ou menos no tempo em que o genesis fez a luz e so depois disso e que apareceram os iates antes dos homens que nao poderiam escolher por si so se iriam navegar nos mares cristalinos e calmos ou se afundariam nas penitenciarias do estado e por isso eu devia uma satisfacao nao uma retratacao porque o dito e escrito nao se apaga quando as palavras sao duras e escritas no blog de um dono de iate que nao quer nem saber se eu existo ou nao?

Um Gostoso Cobertor de La ( Fabulas Fabulosas 2 )

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A baratinha estava quase pegando no sono. Estava imaginando o porco sentado na mesa do boteco comendo um torresmo bem salgadinho com caracu. Ela foi fechando os olhinhos bem devagar enquanto sua mae segurava carinhosamente o livro de estorias e a cobria com um gostoso cobertor de la. A mae deu um leve sorriso apaixonado ao ver a baratinha virando para o lado da parede e caindo em um sono profundo. A barata, antes de apagar a luz do quarto, deu uma ultima olhada para a filha e, desa vez, sorriu satisfeita. Fechou a porta com todo o cuidado e se dirigiu para fora do buraquinho da parede pensado que o barato deveria estar esperando por ela em seu quarto. Quando saiu no corredor da casa, ouviu-se um grito e uma sola de sapato a esmagou como uma barata esmagada deveria ficar esmagada. A baratinha acordou num sobresalto. Chamou pela mae aos berros mas tudo o que conseguiu foi dispertar a atencao da aranha tatanha que, so de farra, adorava picar a bunda das baratinhas.

O Mais Inteligente dos Animais

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Meu amigo se incomodou: “Voce nao come galinha? Que coisa! Isso me parece coisa de xarope!” Eu quiz explicar alguma coisa mas nao consegui. Ele estava muito surpreso com a minha firme posicao de nao comer galinhas. “ Mas todo mundo come!” E concluiu: “Isso nao e coisa normal.” Fiquei mudo. Pensei nas galinhas empilhadas na granja com as pontas dos bicos cortados e comendo racao de petroleo. Galinhas sinteticas. Lembrei do pescoco de galinha que eu comia quando era pequeno. Minha mae destronacava o pescoco e a deixava se debatendo no chao ate ela morrer. Depois a enfiava em um caldeirao de agua fervendo e arrancava suas penas que saiam fazendo um barulho xoxo como um “vruc vruc”. Depois, os ossinhos se separavam de um cordaozinho branco pastoso que tinha um sabor acentuado. Era a medula vertebral. Eu comia a medula das galinhas! Minha mae me ensinou muitas coisas. Quando decidi que nunca mais iria comer galinha minha mae ficou feliz. Ela nao mais matava galinhas. Meu amigo ficou inconformado. Ele disse que o homem e o mais inteligente dos animais e que por isso tem o direito de fazer o que quiser com os outros animais. A natureza nos fez assim! Quem nao come galinhas nao e normal. Quem nao come galinhas deve ser subversivo. Pode ser um cumunista irrustido. Ou terrorista nato. Poeta. Crazy. Anti USA. Que merece ser preso.

Wednesday, December 20, 2006

O Buraquinho no Muro ( Fabulas Fabulosas 1)

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O besouro resolveu fazer as pazes com a lesma e dividir o buraquinho no muro com a condicao de que ela parasse de melecar por onde passasse. Caso contrario, ele ficaria melecado e nao conseguiria voar ate o excremento mais perto. Alem disso, as particulas fecais presas por baixo de suas asas nao o deixariam voar alto e assim seria uma presa facil do sapo. Por sua vez a lesma pediu ao besouro que somente viesse ao buraquinho no muro bem cheiroso porque com o seu mal cheiro a lagartixa os acharia facilmente e ela nao era suficientemente rapida para fugir. Alem disso, cheiro azedo de besouro nao era facil de se aguentar. Estavam nessas ponderacoes e proximos a chegar em um acordo quando o sapo, numa fantastica linguada, sugou e engloiu o besouro. A lagartixa ao ouvir aqule som chupado se atirou direto sobre a lesma e a enguliu em um gole so. O sapo resolveu fazer as pases com a lagartixa e dividir o buraquinho no muro com a condicao de que ela parasse de fazer coco de lesma em todos os lugares aonde passasse. Por sua vez a lagartixa pediu ao sapo que parasse de arrotar os besouros que comia. Estavam nessas ponderacoes, proximos a chegar em um acordo, quando a cobra resolveu que iria passar a noite fumando dentro do buraquinho no muro.

Perplexo

42
A televisao fez isso comigo: deixou-me perplexo. Eu estava distraido, a televisao ligada e resolvi dar uma passada de olhos nas ultimas noticias. Mudei de canal e dei de cara com o papa. Ele estava la sentado e numa fracao de segundos, infelizmente, eu vi seu rosto. Meu proposito de nunca ver o rosto do papa foi por agua abaixo. Mas, felizmente, eu me esqueci de seu semblante quase que imediatamente. No meu celebro so ficou a imagem de uma roupa branca e nao sei nem ao certo se ele usava um chapeu idiota que os papas usam. Gracas a Deus! Mas o pior estava por vir. Fui dormir ressabiado e nao e que o papa apareceu no meu sonho! Que estavamos presos em uma mesma cela. Ele com aquela roupa branca, me benzendo e dizendo que durante os anos em que ficariamos presos juntos ele iria me converter ao catolicismo. Acordei num pulo. Que pesadelo terrivel! Eu suava e jurei que nunca mais olharia para o lado da teve. Nao quero mais ver a imagem do papa. Pedi isso muito a Deus. Fiquei perplexo. E tem mais ainda. Enquanto eu contava esse fato, verdadeiro e chocante, a capeta do meu lado ria que se esbaldava.

Tuesday, December 19, 2006

Deus me Fudeu!

41
O aleijado, tetraplegico, vinha com sua cadeira de rodas descendo a ladeira no meio da multidao enquanto dizia com a voz clara e alta “Deus me fudeu! Deus me fudeu! Deus me fudeu!.” Repetia essas palavras a cada vez que dava impulso nas rodas de sua cadeira ou a cada vez que a segurava para que ela nao fosse bater contra as pessoas que adavam com as sacolas cheias de compras do Natal. As pessoas, quando ouviam o aleijado, se benziam, ou se afastavam o mais depressa que podiam e outras sorriam como se sorrissem de um palhaco. O aleijado bateu de frente com um padre de batinas pretas que nao o deixou passar sem pedir uma explicacao. O aleijado apenas falou: Deus me fudeu! O padre disse que isso nao era bem assim: que Deus tinha suas vontades e seus designios sagrados e que deveriamos repeita-los e aceita-los como bons cristaos. O aleijado pegou sua bengala que estava pendurada ao lado de sua cadeira bateu com toda a forca de seus bracos no saco do padre que ficou estirado no chao gritando: Filha da puta! Filha da puta! O aleijado seguiu com sua cadeira de rodas sem parar de repetir sua frase enquanto o povo ajudava o padre a se levantar e batiam o po de terra que havia colado em sua batina.

Monday, December 04, 2006

Servico Sujo

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O homem na cadeira de rodas nao tem as duas pernas. Ele fica sempre estacionado na frente do seven-eleven. Sempre a noite. As pessoas param rapidamente os carros e ele se aproxima com a sua cadeira. Entrega um pacotinho e pega o dinheiro. Ele fica boa parte da noite fazendo isso. Algumas pessoas ficam incomodadas vendo o homem sem pernas fazendo esse servico sujo. Ele devia fazer outra coisa na vida! Dizem que ele perdeu as pernas na guerra. As pessoas incomodadas o denunciaram a policia. Ele foi preso com cadeiras de rodas e tudo. Depois de uns dias ele estava de volta no mesmo lugar e fazendo a mesma coisa. As pessoas incomodadas de novo avisaram a policia que havia prometido a ele que da proxima vez seriam implacaveis. Levaram e o deixaram uns dias no chao frio da cela do porao. Depois o tenente mandou que seus homens mais fortes fossem la e cortassem as pernas dele. De novo. Depois de uns dias la estava ele em frente ao seven-eleven vendendo os seus pacotinhos. Mesmo sem ter as duas pernas que havia perdido na guerra que serviu para levar a democracia a um outro pais muito distante. Mesmo sem ter as duas pernas que foram cortadas pela segunda vez pela policia na cela fria do porao.

Jogo de Baralho

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A mae do equilibrita jogava baralho. Ela era uma pessoa de sorte e sempre ganhava algum dinheiro. Quando olhava para as pessoas que haviam perdido, sentia uma certa alegria e uma certa tristeza ao mesmo tempo. Os olhares tristes, as esperancas perdidas. O dinheiro no bolso. Uma briga antiga essa do jogo de baralho, ela pensou. Tem gente que diz que isso e coisa da capeta. Tem gente que diz que e coisa dos homens. Eu nao sei. Acho que ninguem tem muita coragem de entender esse tipo jogo. A mae do equilibrista pensou em inventar um jogo em que ninguem perde. Inventou regras de modo que mesmo quem perdesse seria tambem um vencedor. Todo mundo ganharia dinheiro. Uma especie de moto-perpetua. O dinheiro nao seria repartido mas apareceria dinheiro novo feito em uma maquina embaixo da mesa, por exemplo. Coisa de mae. Queria que todos ganhassem. Fizeram um teste. Todo mundo ficou feliz por um tempo. Ate que alguem sugeriu que essa regra fosse aplicada em todas as atividades da nossa vida. O grupo foi enquadrado em uma lei chamada Pariotic Act. A mae do equilibrista pegou 20 anos sem direito a recorrer a liberdade condicional. Merecido.