TEXTICULOS

TEXTICULOS sao relatos explicitos de tudo aquilo que estava implicito. Nao saia desse blog antes de deixar um comentario. Mesmo que seja para me mandar a merda. Valeu.

Saturday, August 13, 2011

3. A incrivel orquestra de pernilongos


... como sempre faziam desde que o mundo era mundo, ha milhares e milhares de anos.

O silencio do entardecer foi quebrado com o guisado da cascavel. Ela estava na beira da lagoa, chacoalhando a ponta da cauda, como um aviso que o show estava para comecar. Os jacares sairam da agua e se emparelharam na praia, lado a lado, com a boca escancarada. Na fila de tras, as tartarugas, lentamente, se amontoavam umas sobre as outras para conseguir um lugar melhor. Algumas pequenas borboletas de asas amarelas se agitavam em um vai e vem caotico, criando um bonito cenario vivo, sobre as aguas da lagoa. Os pernilongos foram chegando aos milhares trazendo, em baixo de suas asas, finas e longas flautas. Era a hora da orquestra comecar. Eles se perfilaram em frente do fundo amarelo que as borboletas faziam e, quando a cascavel parou com seu chocalho, comecaram a tocar. A intrigante melodia comecou com um som fino e adocicado que penetrava bem fundo nos ouvidos. Depois, do agudo extremo a um grave moderado, combinavam sempre uma perfeita afinacao de tons e sobre-tons. Era uma orquestra monumental! Um velho besouro comecou a voar e se agitar, de um lado para o outro, como se estivesse marcando o compasso daquela dificil melodia. Animados, outros besouros o acompanharam e, de suas asas grossas e fortes, surgiu um som forte e entrecortado que se encaixou perfeitamente no compasso. A cascavel nao se conteve e comecou a agitar sua calda preenchendo o fundo da musica como somente um chocalho vivo poderia fazer. Uma noite inesquecivel! E assim, esse espetaculo seguiu ate antes de surgir o primeiro raio de sol. Entao, devagar, cada um dos animais foi voltando para a seu canto e a floresta amanheceu. Os besouros e as borboletas se despedriam entre bocejos e sorrisos e seguiram para suas casas. A cascavel, se enrolou para dormir ali mesmo aonde estava. Os orgulhosos pernilongos guardaram suas incriveis flautas e, felizes da vida, voaram para as sombras umidas da floresta, como sempre faziam desde que o mundo era mundo, ha milhares e milhares de anos. Tambem, com essa experiencia ate eu ou voce tocaria bem assim. Nao e verdade? O unico som que restou na lagoa foi o ronco dos jacares e das tartarugas.

Wednesday, August 22, 2007

A Fabula do Pe de Melancia

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Essa fabula tem origem em uma historia verdadeira. Havia uma pessoa que tinha uma cabeca enorme. E dentro dela um cerebro tambem muito grande. Por isso ele era muito inteligente e por isso as pessoas nao o entendiam muito bem. Ele era inquieto e reclamava o tempo todo de todas as coisas erradas. Ele adorava ler e leu tudo o que um homem podia ler. Lia e aprendia. E mesmo antes dos livros se fundirem em sua enorme cabeca comecou a se preocupar com a preservacao natureza. Isso muito antes do mundo comecar a falar sobre isso. Uma vez, entrou em uma loja para comprar um chapeu. Quando um amigo viu que nenhum chapeu servia em sua cabeca, disse admirado: “Nossa, Ze Simao! Isso nao e uma cabeca. Isso e uma melancia! Voce mais parece com um pe de melancia!” E foi por isso que seu corpo nao aguentou carregar aquela enorme cabeca por muito tempo e se acabou. Da mesma forma que um pe de melancia se acaba. Mas os deuses, percebendo a injustica que fizeram, transformaram a sua cabeca em uma verdadeira bela melancia. E de suas sementes nascerao todas as outras melancias do mundo. E em alguns anos somente dentro delas existira agua potavel. Da exata maneira que ele previu.

Thursday, August 16, 2007

Tive Que Ir a Pia

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Duas coisas: a primeira e que sob o bonito vestido florido o sutian estava poido perto do fecho e manchas amarelas nas alcas que passavam embaixo dos bracos. A segunda, os seios, desnudos das alcas, alongavam-se para o lado das costas em finos nacos de pele e gordura e veias esverdeadas e pretas se trancavam umas por cima das outras. Alem disso, quando o sutian passou perto de meu nariz e tive a impressao de sentir cheiro de sebo. Pode ter sido so impressao. Mas em pouco tempo em que o sutian ficou sobre as flores do vestido fez com elas murchassem. Ai, acho que estava delirando. No baile, vi primeiro o vestido. Bem antes de ver seu rosto, apaixonei-me. Minha mente imaginou o seu rosto. E quando voce sorriu para mim, eu ja estava desmanchado por dentro. Fulminado. Em parceria, seu perfume com sua voz macia fizeram meu cerebro despensar. Conduziram-me a ideias confusas e por isso virei uma dose de absinto sobre as cervejas e os conhaques. Nessa hora, senti que o arroz e o feijao se separaram das salsichas, as cebolas se separaram do ovo cozido e formaram novamente o prato feito dentro do meu estomago. Tive a sensacao acida-adocicada de vapor de wasabi subindo ao nariz quando disfarcei meu arroto. Quando acordei voce nao estava mais. Uma baba branca secou em meu queixo e nao saia com a saliva na mao. Tive que ir a pia. A cabeca latejava. Aquele que vi no espelho nao era eu. Foi assim que descobri como fazer de mim uma outra mesma pessoa sem que nao fosse eu mesmo. Conclui que havia sonhado. Mas quando saia do quarto vi um sutian com as alcas amareladas sobre meu livro sagrado.

Thursday, March 29, 2007

Sem Esquema

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Detonaram o Mirtao! O que mano? Ta maluco? O Mirtao? Sem essa! Alguma coisa pego. Treta. Mas o Mirtao nao vacilava. Sangue ruim mas nao vacilao. Deu regaco? Caguetaram? O bicho vai pegar! E as mina? Tao no lance? Nem. Po! Que Manezada! Nao tem pra malandro. Os cara nao forgaram. Tipo truta. Sera que tinha home no lance? Foi com os home? Firmeza. So. Foi na geral dos home? So sei que deu pau. Nossa! Saquei. Tem tanga froxa no pedaco. Dedo? So. Desencana. Mas o Mirtao foi mal mano. Foi mal mano. Papagaia com os otros mano. Ta ligado? A coisa vai rola ainda. Tem treta, malandro. To ligado mano. So safado! Nao da nem pra da um role que aparece gambe pagando pau. Tem uma pa de mano preso. Maluco no xis. Pacau, po. Sobro velorio. Demoro. Merda. Ladrao ta com uma na agulha e cinco no tambor. Mao cheia. Maior zueira. Tem o dom? To ate sem rango faz uma data. Nem. Sem esquema. Nao to nem ai. Tem os menino do Mirtao. Tao numa pior. Tao rangando barata. Mal. Mas, falo o cara. Falo mano. A gente se cruza. Falo. Vamo reza pra alma do Mirtao. So. Valeu. Valeu mano.

Wednesday, March 28, 2007

Eles nao morrreram ainda

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Pegaram o Mirtao e enfiaram um saco de estopa na cabeca dele. Ele tentou que tentou escapar mas eles eram em seis e deram muitos chutes no Mirtao. Ele chingou e rodou o maximo que pode mas nada disso adiantou. Depois de um tempo ele estava quietinho no chao e dava pra ver um sanguinho escorrendo por entre os buraquinhos do saco de estopa. Eles pegaram o saco com o Mirtao dentro e jogaram em cima de uma camioneta. Como se fosse um saco de lixo. Sairam correndo nao se sabe pra onde. O Mirtao era preto. Os filhos dele sao bem pretinhos. De vez em quando, com do, a turma leva comida para eles. Alguma coisa que sobrou. Quando eles pegam a comida comem feito porcos. Eles nao falam. So olham e esticam as maos para pegar os pedacos de comida. A turma nao entende como eles nao morreram ainda. Dizem que se os meninos do Mirtao conseguirem sair dessa vao acabar virando bandidos. A turma nao entende como novos bandidos nascem e crescem por ali todos os dias. Tem gente que diz que a terra e ruim. Que quem nasce ali nasce ruim tambem. Pode ser.

BOA CONHA

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conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa conha boa

Saturday, January 13, 2007

Uma Bonita Perua

53
O menino queria ser pretinho. Por isso ficava o dia todo no sol. Quando tinha que por a camisa para ir para a escola ficava muito contrariado. Sua mae lhe perguntou se nao tinha medo de ficar pretinho e ele disse que isso era exatamente o que queria. Queira ser um jogador de futebol e por isso tinha que ser pretinho. Os branquinhos podiam ser bons jogadores mas nao tinham a cor dos melhores jogadores. A mae lhe falou que ser branquinho era melhor. Que devia agradecer a deus por ser branquinho. Lembrou o caso do cantor de rock que tinha feito umas mil cirurgias pra ficar branquinho e por isso ficou meio tonto da cabeca. Lembrou que os pretinhos eram proibidos de muitas coisas so por serem pretinhos. Que deus escolheu as pessoas para serem branquinhas e outras pessoas para serem pretinhas. Fazer o contrario da vontade de deus era pecado. O menino nao acreditou e insistiu que queria jogar no time de futebol dos pretinhos mas sob a proibicao da mae, decidiu sair pela rua a procura de um animal que pudesse ser sua namorada. Dessa forma ficaria vingado de sua mae. Nao demorou muito para achar uma bonita perua. O dia de pascoa estava chegando e por isso deduziu que um ajudante de deus deveria estar escolhendo quem seria ressuscitado branquinho e quem seria ressuscitado pretinho.

Maconhamento Excessivo ( Fabulas Fabulosas 6 )

52
Apesar dos olhos grandes e saltados, a lagartixinha nao enchergava direito. Toda vez que precisava alcancar uma borboletosa era um sacrificio. Sua lingua ou ia na direcao da sombra da borboleta ou mal pegava pela ponta das asas e assim as elas escapavam ilesas. Por isso a lagartixinha comecou a passar fome e a emagrecer. Ficou anemica e passou a falar baixinho e devagar. Nao tinha forcas para nada e por isso suas calcas comecaram a cair e os cabelos cresceram atras das orelhas e na palma de suas maos. O seu pai ficou sismado e furioso: “Esse menino deve estar fumando uma maconha danada!” pensou com seus botoes. E assim foi ate que um dia a lagartixinha sem poder andar, caiu de cama. O medico examinou a lagartixinha com todo o cuidado e confidenciou ao pai a sua suspeita. Aquilo era o sintoma de maconhamento excessivo! O seu lagartixo ficou injuriado. Pegou a lagartixinha pelos pes e a derrubou do buraquinho do forro em cima do prato de sopa do pai do menino que levou um susto enorme. No dia seguinte o homem chamou a dedetizadora para acabar de vez com a vida daquelas nojentas lagartixas que estavam infernizando sua casa e as suas vidas. Quando terminou sua estoria o colombiano enchugou as lagrimas dos olhos. Ninguem disse uma so palavra na cela quente e abafada no fundo da prisao em que estavam.

O Buraquinho no Muro 2 ( Fabulas Fabulosas 5 )

51
Quando a lesma viu o menino se aproximar com a mao cheia de sal tentou entar no buraquinho do muro o mais rapido que conseguia. Mesmo assim, uns graozinhos de sal lhe grudaram na pele das costas e queimaram muito e a fizeram derramar lagrimas de dor. O menino ficou pocesso. Como a lesma havia conseguido escapar de sua gana de salga-la? Ela talvez tivesse escorregado na sua meleca enquanto ele achava que a tinha sob controle. Merda! Mas, mesmo assim nao desistiu. Foi ate a construcao do lado de sua casa e pegou um bom tanto de massa de cimento. Sorria satisfeito enquanto fechava para sempre aquele buraquinho idiota. A lesma se encolheu em seu cantinho vendo a escuridao tomar todo aquele pequeno espaco. Deitou-se sobre sua meleca e descansou a noite toda. No outro dia, andou por entre os vaozinhos dos tijolos ate chegar no outro buraquinho no muro. O menino, que nao era bobo nem nada, havia esparramado sal por toda a extensao do muro. A lesma concluiu que ela era a mais detestavel das criaturas quando soube que aquele menino se tornaria um filantropo medico e que passaria sua vida inteira fazendo caridade e cuidando do bem estar das pessoas.

Ai, Pintou Uma Ideia.

50
Olav Bilac perdeu os oculos. Era o comeco da temporada de provas na faculdade de direito e sem seus oculos ele nao podia nem sair de casa. Fiocu muito preocupado e resolveu ligar para o diretor da escola. O diretor foi implacavel. Disse a Bilac que Beto Owen ficou surdo e nem por isso deixou de compor. Que o cego Adalgisio pintou seus melhores quadros sem enchegar nada. Por isso, da mesma forma, Bilac tinha que fazer as provas da melhor maneira que pudesse. Bilac ficou indignado. Nao era Beto Owen. Nem muito menos Adalgisio. Pensou em mandar seu irmao gemeo em seu lugar mas o seu irmao era um cachaceiro e nao saberia responder as questoes da prova e, alem disso, nao usava oculos. Pensou em desistir da faculdade e escrever um manifesto contra o diretor mas ponderou que os colegas que nao gostavam dele iriam impugnar a peticao. Pensou que o mundo estava errado e que os deuses conspiravam contra ele. Nao tinha saida. Tinha que enchergar para fazer as provas. Ai, pintou uma ideia. Uma boa ideia. Ele era uma pessoa muito inteligente e por isso talvez se tornaria um grande poeta. Sorriu. Tentou escrever umas linhas mas as palavras se embaralhavam em sua cegueira. Sorriu de novo e abracou o seu ursinho de pelucia antes de dormir. Ele era apenas Olav Bilac.

Tuesday, December 26, 2006

Incrivel Banda

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Fanfarra era como chamava a banda do colegio. Achava que esse nome vinha da mistura de “fun”, palavra do ingles que queria dizer prazer, e “farra”, palavra do portugues que queria dizer algazarra. Sabia nao. Naquele tempo, quando estavam sem os instrumentos, imitavam a fanfarra com um desafinado vocal. Era mais ou menos assim: comecavam pela zabumba grave e seria: “bundao... bundao... bundao”...depois, entrava a caixinha de guerra: “toma limonada pra caga de madrugada... toma limonada pra caga de madrugada...” e num tom um pouco mais grave, como se fosse uma resposta, “toma purgante pra caga bastante ... toma purgante pra caga bastante...” Depois entravam os surdos: “o bate cu bate culhao, pisca o cu balanga o saco ... o bate cu bate culhao pisca o cu balanga o saco...” e por cima disso tudo, a caixinha de repique com o seu delicado “caralhinho ... caralhinho ... caralhinho...” Depois com a base pronta entravam os metais fazendo a base: “quero caga nao posso... quero caga nao posso...” e finalmente os metais no solo: ‘um gato sargento, mordeu meu saco, sargento, ranco pedaco sargento, ai ai que doooor... um gato sargento...etc” Tinha saudade da banda. As vezes, propunha a alguns amigos ensaiar de novo essa incrivel vocalizacao, para quem sabe, em uma ocasiao especial, por exemplo no Natal, pudessem parar em frente a matriz de N.S. do Perpetuo Socorro e, com os seus gorrinhos vermelhos de pom pom, soltar as alegres vozes, misturadas com gargalhadas, como faziam quando eram mais inocentes e muito, muito, mais felizes.

Resposta Imunitaria ( Fabulas Fabulosas 4 )

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O bacterio bateu o telefone. Estava muito bravo e por isso sentou na mesa para o jantar sem muito apetite. Ele tinha uma bacteria esposa e tres bacterinhas filhas. O bacterio pensava que a injustica era um mal dos homens. Que as bacterias saprofitas responsaveis pela producao de vitaminas e acidos graxos de cadeia curta, degradacao das substancias alimenticias nao digeridas, integridade do epitelio intestinal, estimulo da resposta imunitaria e etc, nao poderiam serem chamadas pelo apelido feminino de “Flora”. Eles eram um exercito a servico dos homens. E por isso estavam lutando pelos seus direitos. Estavam pensando em fazer uma greve de fome e deixar todo o mundo com desinteria, das bravas, ate que resolvessem chama-las por um nome mais adequado. Estava perdido nessas elocubracoes quando uma de suas filhas deixou escapar um sonoro arroto que balancou a mesa e fez estremecer e tremer a barriga toda. Imediatamente, o bacterio, indignado, mandou que a filha saisse daquele intestino para sempre. A bacteria filha encheu sua trouxinha com duas calcinhas e um chinelo de dedos e, sob o olhar triste de sua mae e de suas irmas, desceu na primeira leva que saia com destino ao exterior desconhecido e perigoso. O lugar que ela sonhava em viver livre e independente do chato de seu pai.

A Lavagem dos Ultimos Dias ( Fabulas Fabulosas 3 )

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O porco pediu ao homem que lhe desse uma boa dose de elexir palegorico misturado na lavagem porque ele estava com uma desinteria muito forte e nao estava conseguindo dormir direito a noite. O homem olhou pra o porco ressabiado e achou que ele estava com malandragem pois conhecia aquele porco muito bem. O porco raspou a garganta e continuou falando que acreditava que a lavagem dos ultimos dias tinha resto de carne de porco misturada com restos de arroz e feijao e que isso, alem de se caracterizar como um canibalismo, involuntario, mas da mesma forma inadmissivel, resultava na possibilidade de uma reacao organica degenerativa, nao so sacrificando o atual rebanho como tambem pondo em risco as futuras geracoes que poderiam se contaminar nesse ciclo indesejado e, por isso, contraproducente. Aproveitou e advertiu o homem para o risco da lavagem estar contamindada com produtos inorganicos que poderiam introduzir males maiores para a populacao do chiqueiro como a gripe aviaria e o mal da vaca louca alem de outras doencas ainda nao catalogadas. O homem, preocupado, foi a farmacia a procura do elexir palegorico porque ficou na duvida se o porco tinha realmente dito aquilo tudo ou se a televisao estava mexendo com seus nervos.

Satisfacao

46
Deus chegou me empurrando bateu com as duas maos no meu peito exigindo satisfacao afinal quem eu pensava que eu era que podia escrever coisas que ele nao merecia que se alguem tinha o direito de estar no iate ou na penitenciaria era um prolema seu e eu nao estava autorizado a escrever sobre isso e mais que isso ficar dando corda para a capeta que nessas horas perdia a nocao do ridiculo e ficava azucrinado com ele e com todo mundo so porque ela nao sabe e nao conhece os misterios profundos da natureza e se acha dona da verdade aquela assanhada que nao se pode confiar ainda mais com esse pensamento de que os ricos sao os donos do inferno pois se o ceu exite e o paraiso e tao dificil aqui na terra como eles podem pensar que nao estao no inferno dentro de um iate ou dentro de todos os iates que rodam os mares azuis do caribe que por sinal esse mar tinha sido feito por ele no tempo ainda que nao existia nem a capeta nem os escritores mais ou menos no tempo em que o genesis fez a luz e so depois disso e que apareceram os iates antes dos homens que nao poderiam escolher por si so se iriam navegar nos mares cristalinos e calmos ou se afundariam nas penitenciarias do estado e por isso eu devia uma satisfacao nao uma retratacao porque o dito e escrito nao se apaga quando as palavras sao duras e escritas no blog de um dono de iate que nao quer nem saber se eu existo ou nao?

Um Gostoso Cobertor de La ( Fabulas Fabulosas 2 )

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A baratinha estava quase pegando no sono. Estava imaginando o porco sentado na mesa do boteco comendo um torresmo bem salgadinho com caracu. Ela foi fechando os olhinhos bem devagar enquanto sua mae segurava carinhosamente o livro de estorias e a cobria com um gostoso cobertor de la. A mae deu um leve sorriso apaixonado ao ver a baratinha virando para o lado da parede e caindo em um sono profundo. A barata, antes de apagar a luz do quarto, deu uma ultima olhada para a filha e, desa vez, sorriu satisfeita. Fechou a porta com todo o cuidado e se dirigiu para fora do buraquinho da parede pensado que o barato deveria estar esperando por ela em seu quarto. Quando saiu no corredor da casa, ouviu-se um grito e uma sola de sapato a esmagou como uma barata esmagada deveria ficar esmagada. A baratinha acordou num sobresalto. Chamou pela mae aos berros mas tudo o que conseguiu foi dispertar a atencao da aranha tatanha que, so de farra, adorava picar a bunda das baratinhas.

O Mais Inteligente dos Animais

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Meu amigo se incomodou: “Voce nao come galinha? Que coisa! Isso me parece coisa de xarope!” Eu quiz explicar alguma coisa mas nao consegui. Ele estava muito surpreso com a minha firme posicao de nao comer galinhas. “ Mas todo mundo come!” E concluiu: “Isso nao e coisa normal.” Fiquei mudo. Pensei nas galinhas empilhadas na granja com as pontas dos bicos cortados e comendo racao de petroleo. Galinhas sinteticas. Lembrei do pescoco de galinha que eu comia quando era pequeno. Minha mae destronacava o pescoco e a deixava se debatendo no chao ate ela morrer. Depois a enfiava em um caldeirao de agua fervendo e arrancava suas penas que saiam fazendo um barulho xoxo como um “vruc vruc”. Depois, os ossinhos se separavam de um cordaozinho branco pastoso que tinha um sabor acentuado. Era a medula vertebral. Eu comia a medula das galinhas! Minha mae me ensinou muitas coisas. Quando decidi que nunca mais iria comer galinha minha mae ficou feliz. Ela nao mais matava galinhas. Meu amigo ficou inconformado. Ele disse que o homem e o mais inteligente dos animais e que por isso tem o direito de fazer o que quiser com os outros animais. A natureza nos fez assim! Quem nao come galinhas nao e normal. Quem nao come galinhas deve ser subversivo. Pode ser um cumunista irrustido. Ou terrorista nato. Poeta. Crazy. Anti USA. Que merece ser preso.

Wednesday, December 20, 2006

O Buraquinho no Muro ( Fabulas Fabulosas 1)

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O besouro resolveu fazer as pazes com a lesma e dividir o buraquinho no muro com a condicao de que ela parasse de melecar por onde passasse. Caso contrario, ele ficaria melecado e nao conseguiria voar ate o excremento mais perto. Alem disso, as particulas fecais presas por baixo de suas asas nao o deixariam voar alto e assim seria uma presa facil do sapo. Por sua vez a lesma pediu ao besouro que somente viesse ao buraquinho no muro bem cheiroso porque com o seu mal cheiro a lagartixa os acharia facilmente e ela nao era suficientemente rapida para fugir. Alem disso, cheiro azedo de besouro nao era facil de se aguentar. Estavam nessas ponderacoes e proximos a chegar em um acordo quando o sapo, numa fantastica linguada, sugou e engloiu o besouro. A lagartixa ao ouvir aqule som chupado se atirou direto sobre a lesma e a enguliu em um gole so. O sapo resolveu fazer as pases com a lagartixa e dividir o buraquinho no muro com a condicao de que ela parasse de fazer coco de lesma em todos os lugares aonde passasse. Por sua vez a lagartixa pediu ao sapo que parasse de arrotar os besouros que comia. Estavam nessas ponderacoes, proximos a chegar em um acordo, quando a cobra resolveu que iria passar a noite fumando dentro do buraquinho no muro.

Perplexo

42
A televisao fez isso comigo: deixou-me perplexo. Eu estava distraido, a televisao ligada e resolvi dar uma passada de olhos nas ultimas noticias. Mudei de canal e dei de cara com o papa. Ele estava la sentado e numa fracao de segundos, infelizmente, eu vi seu rosto. Meu proposito de nunca ver o rosto do papa foi por agua abaixo. Mas, felizmente, eu me esqueci de seu semblante quase que imediatamente. No meu celebro so ficou a imagem de uma roupa branca e nao sei nem ao certo se ele usava um chapeu idiota que os papas usam. Gracas a Deus! Mas o pior estava por vir. Fui dormir ressabiado e nao e que o papa apareceu no meu sonho! Que estavamos presos em uma mesma cela. Ele com aquela roupa branca, me benzendo e dizendo que durante os anos em que ficariamos presos juntos ele iria me converter ao catolicismo. Acordei num pulo. Que pesadelo terrivel! Eu suava e jurei que nunca mais olharia para o lado da teve. Nao quero mais ver a imagem do papa. Pedi isso muito a Deus. Fiquei perplexo. E tem mais ainda. Enquanto eu contava esse fato, verdadeiro e chocante, a capeta do meu lado ria que se esbaldava.

Tuesday, December 19, 2006

Deus me Fudeu!

41
O aleijado, tetraplegico, vinha com sua cadeira de rodas descendo a ladeira no meio da multidao enquanto dizia com a voz clara e alta “Deus me fudeu! Deus me fudeu! Deus me fudeu!.” Repetia essas palavras a cada vez que dava impulso nas rodas de sua cadeira ou a cada vez que a segurava para que ela nao fosse bater contra as pessoas que adavam com as sacolas cheias de compras do Natal. As pessoas, quando ouviam o aleijado, se benziam, ou se afastavam o mais depressa que podiam e outras sorriam como se sorrissem de um palhaco. O aleijado bateu de frente com um padre de batinas pretas que nao o deixou passar sem pedir uma explicacao. O aleijado apenas falou: Deus me fudeu! O padre disse que isso nao era bem assim: que Deus tinha suas vontades e seus designios sagrados e que deveriamos repeita-los e aceita-los como bons cristaos. O aleijado pegou sua bengala que estava pendurada ao lado de sua cadeira bateu com toda a forca de seus bracos no saco do padre que ficou estirado no chao gritando: Filha da puta! Filha da puta! O aleijado seguiu com sua cadeira de rodas sem parar de repetir sua frase enquanto o povo ajudava o padre a se levantar e batiam o po de terra que havia colado em sua batina.

Monday, December 04, 2006

Servico Sujo

40
O homem na cadeira de rodas nao tem as duas pernas. Ele fica sempre estacionado na frente do seven-eleven. Sempre a noite. As pessoas param rapidamente os carros e ele se aproxima com a sua cadeira. Entrega um pacotinho e pega o dinheiro. Ele fica boa parte da noite fazendo isso. Algumas pessoas ficam incomodadas vendo o homem sem pernas fazendo esse servico sujo. Ele devia fazer outra coisa na vida! Dizem que ele perdeu as pernas na guerra. As pessoas incomodadas o denunciaram a policia. Ele foi preso com cadeiras de rodas e tudo. Depois de uns dias ele estava de volta no mesmo lugar e fazendo a mesma coisa. As pessoas incomodadas de novo avisaram a policia que havia prometido a ele que da proxima vez seriam implacaveis. Levaram e o deixaram uns dias no chao frio da cela do porao. Depois o tenente mandou que seus homens mais fortes fossem la e cortassem as pernas dele. De novo. Depois de uns dias la estava ele em frente ao seven-eleven vendendo os seus pacotinhos. Mesmo sem ter as duas pernas que havia perdido na guerra que serviu para levar a democracia a um outro pais muito distante. Mesmo sem ter as duas pernas que foram cortadas pela segunda vez pela policia na cela fria do porao.

Jogo de Baralho

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A mae do equilibrita jogava baralho. Ela era uma pessoa de sorte e sempre ganhava algum dinheiro. Quando olhava para as pessoas que haviam perdido, sentia uma certa alegria e uma certa tristeza ao mesmo tempo. Os olhares tristes, as esperancas perdidas. O dinheiro no bolso. Uma briga antiga essa do jogo de baralho, ela pensou. Tem gente que diz que isso e coisa da capeta. Tem gente que diz que e coisa dos homens. Eu nao sei. Acho que ninguem tem muita coragem de entender esse tipo jogo. A mae do equilibrista pensou em inventar um jogo em que ninguem perde. Inventou regras de modo que mesmo quem perdesse seria tambem um vencedor. Todo mundo ganharia dinheiro. Uma especie de moto-perpetua. O dinheiro nao seria repartido mas apareceria dinheiro novo feito em uma maquina embaixo da mesa, por exemplo. Coisa de mae. Queria que todos ganhassem. Fizeram um teste. Todo mundo ficou feliz por um tempo. Ate que alguem sugeriu que essa regra fosse aplicada em todas as atividades da nossa vida. O grupo foi enquadrado em uma lei chamada Pariotic Act. A mae do equilibrista pegou 20 anos sem direito a recorrer a liberdade condicional. Merecido.

Thursday, November 30, 2006

Agua Limpa

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A capeta estava indignada. Ficou tao brava que se fechou em seu canto e nao queria falar com ninguem. Foi com muito custo consegui que ela se abrisse. “Nao fizeram portas de emergencia na cadeia nova!” desabafou. “se pegar fogo nao se salva ninguem! Todos os presidiarios vao morrer queimados!” Eu fiquei pensando nisso por um tempo. Conclui que se fizessem portas de emergencia na cadeia os presos poderiam fugir facilmente. E fiquei na duvida. A capeta percebeu minha ignorancia e ficou mais emburrada ainda. Pensei que os presos colocariam fogo nos colchoes e assim seria facil fugir. Sera que tem splinklers? Sera que tem agua? Mesmo para beber? Agua limpa? Entao porque o guarda nao deu logo agua para o menino que estava preso? Sera que o engenheiro que fez o projeto nao pensou nisso? A capeta deu uma risada. Disse que no iate tem saida de emergencia ate de helicoptero. Que o bebado quando cai do iate, cai no mar limpo e calmo do Caribe. Que quando um preso fica doente o medico so remedio vencido. O medico e o engenheiro tem sempre pressa quando se trata de cadeia porque os iates estao sempre deixando o porto. Nos iates tem agua limpa. Perrier. San Pelegrino. Austin. Evian. Spring Ice. Lindoia nao tem.

Wednesday, November 29, 2006

Andando e Cocando a Bunda

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Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda.

Tapao de Mao Aberta

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O neguinho filho da comadre Bastiana saiu para passear com ex-minha bike. Minha me deu a minha bike para ele. De presente. Merecido.(?) Ele colocou uma bandeirinha do Corinthians no guidao para ela ficar mais bonita. Pintou uma faixa branca no lado de fora dos pneus. Ele descia a rua rampada sem segurar no guidao. Pedalava e assobiava. La em baixo, o guarda viu o neguinho. O guarda tambem tinha sido neguinho mas agora usava uma farda. Fez sinal para o neguinho parar. O neguinho pedalou firme para tras, fincou o pe, e zas! a bike cantou o pneu, derrapou um pouco de lado e parou junto ao guarda. “Desce!” gritou o guarda. “Cade os documentos? RG ou qualquer um que tenha foto. Quero ter certeza de que essa bike nao foi roubada.” “Essa nao foi nao” disse o neguinho “essa foi um presente da minha madrinha. O filho da minha madrinha nao ligava pra ela. Ele e rico e devia ter muitas outras coisas com que brincar.” O guarda imaginou o neguinho pulando o muro da casa e jogando a bicicleta para o outro lado. Ele iria ser promovido a tenente no proximo mes. Ajeitou o quepe e, de supetao, deu um tapao de mao aberta na orelha do neguinho e fez sinal para ele seguir em frente. A orelha do neguinho chiava enquanto ele pedalava. Infelizmente deve ter sido assim. Infelizmente.

Wednesday, November 22, 2006

Deus Comeu Rapadura

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Acho que Deus comeu rapadura. Os pedacinhos da rapadura sempre acham os buraquinhos nos dentes das pessoas para doer. Da mesma forma, as palavras acham os buraquinhos de nosso cerebro para ficar incomodando. Lembro do verso de uma unica palavra do Mellarmezinho e, mais ainda, da palavra que estava tatuada no tronco da arvore. Era um nome. O nome do filho do pai que era o homem que queria cortar a arvore. O mesmo filho que havia matado a mae com seis tiros na cabeca no dia de Pascoa. O homem se lembrou de quando ele batia no filho so porque ele nao comia com a mao direita. Inadimissivel! Se nao interferisse naquela situacao o menino poderia se tornar um esquerdista nato. Por isso ele batia. Nao foi por mal. Imaginou o menino enforcado no galho da arvore. Um fio sangue brotava do pescoco, embaixo da corda, e descia bordando a camisa ate terminar, fininho, numa gota que se coagulara antes de pingar. O homem sorriu entre as lagrimas ao pensar que Deus estava com dor de dentes encolhido nos confins do universo escuro e geladinho. "Rapadura e' como queijo duro: nao e mole. E macarronada nao e sopa". Concluiu.

Tuesday, November 21, 2006

Afinal Ele Era Deus

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Deus estava com dor de dente. A capeta me contou que no principio Deus era homem. Que era uma pessoa mais ou menos desequilibrada quando era moco. Depois enquanto foi crescendo aprendeu as coisas da igreja. Depois foi ficando cada vez mais rico e mais poderoso ate que um dia se tornou o presidente do pais mais poderoso do mundo. Dai pra se tornar Deus foi apenas um passo. Por isso comecou a matar gente. Somente para manter seus exercitos treinados. Afinal ele era Deus. Mas tinha uma coisa que o incomodava muito. Ele nao conseguia fazer nada de bom. Tudo o que ele gerava era odio ou tristeza. Um Deus poderoso mas incompetente. Um Deus de merda. E assim continuou sua carreira ate que a eternidade o consumiu. Agora ele estava com dor de dente mas nao ha dentista que possa ajuda-lo porque ele tem pavor do motorzinho e do boticao. Sentado num canto de uma galaxia chora baixinho enquanto a capeta sorri me contando essas coisas. Ela desbochava daquele Deus. Alguns ricos depois que morrem viram Deuses. A capeta so existe enquanto existe grana e iates. Ela nao tem medo de dentista por que o anestesico dos ricos sempre funciona bem.

Monday, November 13, 2006

O Soluco do Homem

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Alguem prendeu uma palavra no tronco de uma arvore. Com um canivete rasgaram a casca e desenharam as letras que fizeram o tronco sangrar uma seiva transparente e gelatinosa. Depois de um tempo a seiva secou e a casca cobriu parte da palavra formando uma cicatriz que emoldurou em alto relevo sobre o baixo relevo das letras cravadas. O homem chegou com a motoserra em punho. Deu um tranco para que o motor funcionasse e a corrente rodou forte desaparecendo em seu proprio giro. O homem ja havia escolhido a posicao de corte e quando levantou a lamina leu a palavra cicatrizada na arvore e deixou o braco cair para tras. Olhou horrorizado para a arvore enquanto lagrimas escorriam de seus olhos. Olhou para a serra em suas maos e a atirou para longe. A serra afundou na terra do chao chiando e levantando poeira ate se enroscar em si mesma e silenciar. Dai em diante so se podia ouvir o soluco do homem parado em frente a arvore que iria derrubar. A palavra se soltou do tronco e se cravou na testa do homem pelo lado de dentro.

Massaroca de Coisa Esquisita

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O menino pediu um copo d’agua. O guarda sugou o nariz duas ou tres vezes. Depois, enxugou o resto da baba que estava mais embaixo com o lado da mao e olhou para o lado da cela como se nao tivesse entendido o que o menino havia dito. O menino lambeu os beicos ressecados. Ele estava preso ha muitas horas. Sentia uma calor que nascia debaixo de sua lingua. No fundo do pescoco. Pensou na Perua. Ela tinha uma coisa vermelha que ficava pendurada no pescoco como se fosse uma renda portuguesa. Mas nao era um pedaco de renda. Era um tecido vivo e cheio de sangue. Quando ele olhava aquela coisa enrugada, bem de perto, podia perceber as veias aonde o sangue corria bem ligeiro. Ele pensava que se alguem pudesse esticar aquela massaroca de coisa esquisita ela aumentaria um metro ou mais. A perua nao se importava com aquilo que tinha em baixo do pescoco. Talvez por isso ela era interessante. Nao se importava com a sua papada, enrugada, vermelha e esquisita. Pensou que talvez aquela sede faria crescer uma papada igual a da perua.

Sunday, November 12, 2006

Carcaca de Lesma

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Estive lendo o Ze Simao. Poeta. E bom poeta. Parece que as suas rimas nao escorregam em seus versos.? Nao entendi. Explico-me. Parece que existe uma afinidade unica, intrinsica, como se existisse uma gosma melecada em um escorregador. Um liso escorregador mas que nao escorrega. Pode? Pode. Como se uma lesma descendo nesse escorregador. Ela deveria escorrregar, porque tudo escorrega na superficie lisa, mas, ao contrario, a lesma se segura mesmo sem ter maos. Imagino a gosma melecando sua barriga. A gravidade puxa a lesma para baixo mas ela nao desce. Da mesma forma, os versos do Simao nao vao assim de supetao. Eles ficam parados na rampa lisa de nossa imaginacao e somente depois de salgar a lesma, esperar que o sol a seque, e que sua carcaca comeca a descer, devagar, deixando a gravidade ficar convencida de seu poder. Mas, no final das contas, quando seus versos descem como carcaca de lesma, suas ideias sobem junto com as volatilidades que secam ao sal e ao sol do deleite desse poeta desequilibrado em tudo aquilo que escreve. Nao sei se era bem isso que eu queira dizer. Xi. Acho que si enrolei.

Friday, November 03, 2006

Apenas Contei um Fato

30

Devo confessar que estava distraido. Na verdade, estava pensando em alguma coisa que acabara de ler na telinha do meu computer. De repente deu um “vap”e a sua cabeca cresceu para fora da tela em minha direcao. A capeta em pessoa. Ela estava furiosa. Demente. Queria ter uma conversa de “pe-de-orelha” comigo. Queria saber de onde eu havia tirado a ideia de que o pai do equilibrista havia morrido de uma queda na fila do banco. “Isso nao e verdade” ela bradou em voz rouca e vermelha. “Mas... que diferenca isso faz? Perguntei timidamente. “Que diferenca? Voce nao sabe? Ele era o equilibrista pai. Que ensinou o filho. Que deu sustento a sua familia com sua profissao. Como pode ter caido no chao frio de marmore do banco sem ao menos rachar a cabeca?” Dei um empurrao na cabeca da demonia e fiz com que ela voltasse de onde tinha vindo. “Sera que nao tinha nada melhor para fazer?” Pensei. Na verdade, nao fui eu quem tirou essa ideia de lugar algum. Eu apenas contei um fato inveridico ( antes de ser contado ) mas que depois de consumado capeta nehuma podera muda-lo.

Lo Accidente

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um dia troquei minha bike por uma moto. bike nova, moto véia, foi na oreia.minha mãe disse que ia ser dor de cabeça, mas nunca imaginei que doesse tanto. problemas mecanicos, manutenção e peças descontinuadas. nada disso. a cabeça bateu foi no meio fio. o capacete segurou um pouco mas o trauma aconteceu. a moto se foi e a bike tambem. minha cabeça nunca mais foi a mesma. ficou um calombo dum lado. ficou um buraco do outro. ainda penso, mas não me lembro de como pensava antes para comparar.minha mãe sempre diz a verdade e o pé da letra é simplesmente implacavel comigo.Palavras de Zakale escritas em www.zakale.blogspot.com

Eu tambem tive uma bike. Ela tinha o freio no pe. Era uma Husqvarna, Theca. Um dia o afilhado da minha mae, um neguinho filho da comadre Bastiana, viu minha bike no quintal e pediu ela a minha mae. Minha mae deu. Minha cabeca nunca mais foi a mesma. Sofro disso ate hoje. Nao sei dizer se por isso a vida do neguinho foi melhor dai em diante. A minha foi so lembranca de minha bike de breque no pe e de muitas derrapadas no asfalto novo da rua aonde eu morava. Acho que ficou um calombo de um lado e um buraco do outro por dentro de minha cabeca.

Uma Forcinha

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A capeta estava amuada. Sentada na sargeta, parecia que estava querendo chorar. “Ola Dona capeta” arrisquei puxar conversa. “Parece que nao esta muito legal hoje!? O que que ha?” “Nao esta vendo?” respondeu com uma voz miuda. “To tediosa. Nao to tendo muito o que fazer.” “ Nao tem o que fazer? Como assim?” insisti. “Nao esta sobrando muito coisa para eu fazer. As desgracas por si so estao pululando em toda a parte. Virou rotina. As criancas morrendo de fome e de guerra. Uma beleza, mas… enfim, a coisa ta de um jeito... tudo prontinho.” afirmou desolada. “Sei... entendi… deixa eu ver… quem sabe eu posso te dar uma forcinha. E se voce fizesse, de repente, alguns pobres se tornarem ricos? Nao precisa ser muitos. Assim: voce da riqueza a eles e em troca eles vao menosprezar, maltratar e ignorar os antigos amigos.” Seus olhinhos brilharam.”Sera?” “Pois e.” Completei. “Ai e que esta a graca da coisa. Eu aposto com voce que eles vao se tornar ricos, neo-liberais, e vao se esquecer de todo o resto.” “ok…” disse a capeta.. ”vou tentar” Desamuou.

Thursday, October 12, 2006

Urubus de Pescoco Pelado

27

Os meninos olhavam curiosos para o homem que andava pela estrada com um saco nas costas. A mae, quando viu o homem, correu pegar os meninos no colo e os trouxe, afobada, pra dentro de casa. Nao demorou mais que cinco minutos para a policia chegar. O homem seguia pela estrada como sempre fazia. A policia quase o atropelou com a viatura. Os guardas arrancaram o saco de suas costas e lhe bateram muito. Depois sairam cantando os pneus da viatura. O homem, sangrando, se levantou e comecou vagarosamente ensacar as coisas espalhadas ao lado da estrada: um cobertor, um panelao sem tampa, um pe de chinelo, um pao, um pedaco de papelao e um livro sem capa. Tudo muito empoeirado. O homem deu um sorriso quando viu que a polica havia rasgado em pedacinhos uma velha fotografia, a unica coisa que o ligava ao mundo de onde ele vinha. Por isso, caiu morto. Os urubus de pescoco pelado, saltitavam sobre o asfalto quente que fritava a carne que comiam.

Wednesday, October 11, 2006

O Chutador de Baldes

26

Poim…poim…poim…! O que ele mais gostava era de chutar baldes. Nao importava o que eles tinham dentro. Nao importava a cor ou a forma. Bastava ser um balde pra ele chegar e meter o pe. Poim! Um dia, o levaram ate um medico. Exames clinicos, laboratorios e todos os outros tipos de exames que alguem possa suportar na dosagem maxima dos raios Xs e raios Zs. Nada. Nada de errado com ele. Uma serie de exames psicologicos com investidas em seu subconciente e nas zonas mais escuras das profundezas de seu cerebro. Nada. Tudo normal. Mesmo assim o internaram por muitos anos. Quando saia do hospicio chutou o primeiro balde de lixo que estava do lado da porta. E assim continuou sua vida de chutador de baldes. Envelheceu chutando baldes. Morreu, depois de muitos anos, vitima de uma inflamacao, embaixo da unha do dedao, contraida no metal contaminado do ultimo balde que chutara na favela da Boa Esperanca, aonde vivia. Poim…foi sua ultima palavra.

Unica Palavra

25

O poeta Mellarme’ estava em busca de um verso que tivesse uma unica palavra. Um unica palavra que serviria para exprimir todo o sentimento e toda emocao que um verso deveria ter. Um vocabulo que fosse ao mesmo tempo verdadeiro, colossal, magnanimo, estupendo, franco, honesto, abrangente, delicado, sublime e que rimasse consigo mesmo e com todo o universo de rimas existentes em todos os versos do mundo. Nessa epoca ele estava vivendo o paroxismo de sua demencia poetica. Uma busca insana e dolorosa que acabou em nada, como nao poderia deixar de ser. Tempos depois, seu filho, o Mellarmezinho, estava no meio de um jantar de familia. A avo' percebendo que ele estava o tempo todo calado, chamou a sua atencao: “O menino! Porque esta tao quieto? Fala alguma coisa...” E diferente de Mellarme’, o menino, num atimo, talvez inspirado naquela alegre reuniao familiar, achou o verso de uma unica palavra e a disse com a entonacao e a simplicidade que somente o filho de um grande poeta a diria: “Cu”. Achou, Mellarme’?

Maria

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“Ficou bom?”, pergunta a mulher para o diretor. “Ficou uma bosta. O babaca do cameraman focalizou o seu rosto. Eu disse que deveria da um zoon nos seus peitos. Vamos rodar de novo.” “Sei nao,” disse a mulher. E que quando apagam as luzes esse cara vem que nem louco em cima de mim… nao estou gostando disso.” “Sei nao?” “ Nao esta gostando? Ora bolas…Se nao for assim o filme perde a forca. Quero que tudo seja expontaneo.” “Mas que forca? Se a luz esta apagada e nao da pra ver nada do que estao filmando?” “Vamos fazer o seguinte? Voce faz sua parte bem feita e cuidamos do resto.” “Nao da nao. Nao acredito nessa historia do genesis dessa maneira. Eu aprendi no meu catecismo que o genesis foi uma coisa bonita…uma luz que atravessava o universo escuro e vazio. Agora vem esse cara querendo abusar de mim enquanto a luz esta apagada. E nao quero o zoon em lugar nenhum a nao ser no meu rosto. Meu nome e Maria, nao se esquecam disso: M A R I A.”

A mesma borracha

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Voce e ateu? Nao? Acredita em Deus? Acredita que Deus e um ser superior? Um ser que esta acima de nosso conhecimento? Um ser que comanda toas as forcas do universo? Majestade? Onipresente? Onipotente? Onupresente? Onitudo? Comanda tudo? Entao, ele comanda as desgracas da humanidade? Comanda as doencas? Comanda os exercitos? As injusticas? Os desvios? Comanda os homens poderosos? Comanda as igrejas? Comanda os fieis? Comanda os ateus? Comanda a internet? Comanda o microsoft word aonde se pode mergulhar de cabeca na tela e seguir ate o inferno que ele tambem comanda? Comanda meu teclado? Comanda minha cabeca? Comanda minhas maos? Entao ele tambem comanda minha letra que sai toda torta quando bebo e tento teclar alguma coisa. No dia seguinte, entendo porque minha tela esta cheia de cuspe riscado com meu dedo quando tentei apagar as ideias embriagadas que escrevi ontem a noite. A mesma borracha que Dante usava.

Friday, August 04, 2006

Escabroso Festim

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Naquela epoca havia muita tristeza pelo mundo: as maes choravam a morte dos filhos ainda criancas; os pais adoeciam e nao tinham mais comida em casa; as casas deixavam a chuva entrar pelos telhados; o frio congelava; o calor sufocava; as doencas se espalhavam rapidamente por todos os lugares e por todas as pessoas; as criacoes morriam com a boca espumando; a podridao infestava o lugar com um cheiro de vapor de enxofre. Sobre as barrigadas dos porcos, putrefatas, espalhadas pelas ruas, moscas azuis tiniam suas asas em um escabroso festim. Quando contaram para o rei o que estava acontecendo ele perguntou aos conselheiros o que deveria fazer para que aquelas pessoas nao parassem de pagar seus impostos. Um conselheiro sugeriu uma ajuda financeira, a divisao da riqueza do reino. O rei mandou imediatamente matar o conselheiro. Outro conselheiro sugeriu que as pessoas tivessem uma ajuda espiritual. O rei cocou a cabeca... A pior desgraca que a humanidade ja experimentara estava por vir.

Mais Um Copo

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O papa e um sujeito ridiculo. Alias, todas as pessoas ligadas as igrejas sao ridiculas. As igrejas sao a fonte de todas as maldades que existem no mundo (?). Nao tem nada pior que as igrejas. Talvez os exercitos se comparem a elas mas, mesmo com toda a sua imbecilidade, eles ainda nao sao piores que elas. Mas, agora, o assunto e o papa, nao os exercitos. Eu ainda nao conheco o papa. Fiz uma promessa, a mim mesmo, nunca ver a figura do papa. Quando ele aparece, em algum ridiculo jornal ou na idiotizante televisao, eu olho para o outro lado. Nao sei bem o seu nome e nao me importa as bobagens que ele fala. Assim, quando um dia ele se encontrar comigo pelos bares da cidade nao vou reconhece-lo e se, quando um amigo me apresentar, “Olhe…esse aqui e o papa”, eu, descontraido, tomando minha cerveja, olho para o dono do bar no outro lado do balcao e peco mais um copo. “Da mais um copo ai para o papa. Senta ai, o papa!”

O Vapor do Passaro

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O inferno nao existe. Nem simbolicamente. E ser muito burro acreditar no inferno. Nao pode haver um lugar que queima as pessoas vivas pelo resto de suas mortes. Ou que nao queima mas faz com que as pessoas mortas, mas que ainda sao vivas (?) , sofram de qualquer outra maneira. O inferno e outra coisa que as igrejas e os crentes nao querem admitir. O inferno e a vida boa que se pode ter na terra. E o prazer eterno que se tem enquanto ele dure. E o jacare comendo o passaro que poderia estar voando alto nos ceus e, no entanto, foi engolido na beira da lagoa, por um reptil rastejante que se atola na lama e depois entra na agua pra lavar o subaco. O inferno sao os ricos nao compartilhando com os pobres, o iate parado no cais da lagoa, as luzes acessas, a musica alta, os risos das mulheres bonitas, o constante tim tim das tacas de vinho espumante enquanto, la em baixo, o jacare arrota o vapor do passaro.

Super Homem

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O homem morava na favela com sua familia. Era considerado uma pessoa normal mas achava que o mundo precisava de mais leitura, ou alguma coisa que nao sabia ao certo o que seria.
Um dia, ele foi a biblioteca da cidade e pediu a bibliotecaria um bom livro. Ela, toda sorridente, lhe deu um livro do Sartre, o Jean Paul. O homem ficou achando que Sartre era o maximo! Ficou impressionado com a historia do homem humilde e fraco mas que se sentiu muito poderoso quando saiu de casa e andou no meio das pessoas com um revolver no bolso. Aquele homem se tornara um "super homem"! Por isso, o homem ficou pensando nas coisas da favela. Pensou na pobreza e na violencia. Pensou no "super-homem". Foi ate uma loja no centro da cidade e comprou uma roupa igual a do Super-homem. Quando ele saiu de casa andando pela favela, vestido com aquela roupa ridicula, apanhou tanto, tanto que nunca mais quiz ler e proibiu, para sempre, seus filhos irem a biblioteca.

Tuesday, July 18, 2006

Ostras Verdes

18
No tempo em que somente existia o papel e a pena o poeta escreveu: “tomei de minha pena e sob a tenue luz de uma vela, enchi minha alma de inspiracao comecei a rabiscar minhas ideias. Comecei a escrever sob o rangido da pena sobre o papel e o tinir do fundo do tinteiro a cada vez em que a molhava. Era um 'rasqui' e um 'tinqui' que me irritavam muito. Depois, quando errei a grafia das palavras excessivo exegese foi um porre maior ainda. Tive que rasgar a folha e comecar tudo de novo. Merda. A inspiracao foi pra puta que me pario. Apaguei a vela e fui deitar porque, alem de tudo, nao aguentava mais ouvir aquele 'crequi' 'prequi' do pavio queimando e aquele 'chiufiti' da parafina caindo no pires. E essa bendita tuberculose que nao me da sussego. Tenho que escarrar a cada dez palavras que escrevo porque tenho nojo de engolir essas ostras verdes que habitam meus pulmoes” Dante escrevia o seu Inferno somente durante o dia e so usava lapis com grafite lavavel. Quando errava, cospia na mao e esfregava o dedo sobre a palavra. Depois, assoprava a folha ate ela secar e escrevia por cima. Porco.

Jantar de Pascoa

17
O menino vinha andando com a perua em baixo do braco. Na rua, as pessoas olhavam sem entender o que estava acontecendo. O menino caminhava tranquilo nao se importando se as pessoas olhavam para eles. Ele amava a perua. Era sua primeira namorada. E os meninos costumam a se apaixonar pelas suas primeiras namoradas. Quando o menino chegou em casa a mae dele ficou exultante. "Oba!", disse. "Finalmente vamos ter alguma coisa para o jantar de Pascoa." Deu um forte abraco no menino que imediatamente a empurrou de lado quando percebeu que, sem querer, ela apertava a perua que estava sob o seu braco. Em seguida, a mae perguntou quem iria matar a perua. "Matar? Matar minha perua? Pirou, mae?"O menino ficou indignado. "Minha namorada?" Ao ouvir aquelas besteiras a mae pegou o chinelo e deu uma surra no menino. Em seguida puxou o pescoco da perua e a deixou se debatendo no chao da cozinha. O menino pegou o revolver do pai e deu seis tiros na cabeca da mae. Ele realmente amava a perua.

Saturday, July 15, 2006

"Olas"

16
Pablo Neruda tinha uma colecao de pedras como eu tenho. Um dia, eu estava sentado e uma pedra olhou para mim. Eu olhei para ela e resolvi coloca-la no bolso. Ela nao era uma pedra comum. Tinha alguma coisa que as outras pedras nao tinham. Talvez, um olhar difetente das outras. Um pedra digna de ir para uma colecao de pedras. Depois, passei muito tempo sem achar a minha segunda pedra. Ate que um dia, sem nada esperar, olhei para o chao e vi uma outra pedra olhando pra mim. Pimba! a segunda. Assim foi ate que juntei umas 50 ou 70, nao contei. Um dia, lembrei que o Neruda tambem tinha uma colecao de pedras. Fiquei puto comigo mesmo. Entao tinha sido la que eu tinha aprendido essa besteira? Havia sido com o grande poeta Neruda? Aquele mesmo que chama as ondas do mar de “olas”?! Se eu tivesse um estilingue atiraria todas essas pedras na janela do vizinho que reclama quando ouco musica alta.

O Dante e Um Babaca

15
Quer ver? O Dante e um babaca. Escrever uma poesia sobre o inferno! Que bobagem. Nao so pela perda de tempo quando escreveu o livro mas o tempo todo em que as pessoas ficaram lendo esse livro. Eu mesmo ja li. Burro. Umas versoes reduzidas e traduzidas. Ai, um amigo recomendou que eu lesse o original. Que coisa, nao? Mesmo sem entender a lingua dos italianos eu gastei um tempao lendo aquele pretenso inferno. O inferno nao pode ser assim. O inferno nao e o que o Dante diz. O inferno e um iate cheio de vinho e talheres de prata. O Dante colocou tudo arrumadinho. Os niveis do inferno. As pessoas e as penas. Que e isso? Que puta sacanagem. Que perda de tempo. Que falta de imaginacao. “E questo e vero cosi com’io ti pario.” (“ E isso e verdade assim como eu te falo”.) Mentira. Inferno e ouvir Tom Jobim quando a pessoa amada te deu um pontape. O inferno e morder a lingua comendo buchada. O inferno e um lugar especial aonde somente quem nao gosta de poesia pode entrar.

A Mesma Merda

14
Nao gosto de poesia. E assim: pego algumas palavras, que ja conhecia, e as coloco enfileiradas ou de uma outra forma qualquer. Leio. Nao era assim que eu queria ve-las. Nao gosto do que li. Volto e tiro um “foda-se” que parecia querer sobrepujar as outras palavras. Escrevo o "foda-se" em outro lugar. Tambem nao gosto. Fico puto. Apago o "foda-se" de vez. Leio de novo e nao gosto de mais nada. Dou uma fungada e penso em apagar tudo o que escrevi. Rearranjo. "Foda-se!" Mas estava tao bonito! Aquela palavras vieram de uma inpiracao intensa. O que teria acontecido? Fico lendo meio de longe… vou ate a cozinha e dou um gole no cafĂ©. Volto e leio tudo de uma vez. Procuro algum sentido, alguma coisa que esteja escondida. Alguma coisa criativa. Alguma coisa nova. Uma vida... Nada. Nao acho nada. A mesma merda. Nao gosto de poesia. Apago tudo e escrevo o "foda-se" bem grande no meio da folha na telinha.

Friday, July 14, 2006

Os Arranha-ceus

13
A vida por um fio. O equilibrista sabe bem o que isso quer dizer. Ele nao se preocupa com a morte porque sabe que sua vida esta por um fio. Sempre. Com o pai dele tambem tinha sido assim. O pai lhe ensinara como amarrar o fio entre a barriga e as pernas para que ele funcionasse como salva-vidas quando ele precisasse dele. Ficaria dependurado mas sao e salvo. O pai ensinou a ele muitas coisas. Por isso eles conseguiam juntar muitas pessoas na praca entre os arranhas-ceus para ve-los na corda bamba. O pai do equilibrista era uma pessoa normal. Ele comecou a andar na corda bamba sem ter uma razao especial. Como ele era uma pessoa dedicada as coisas que fazia, andou na corda bamba sem titubear. Sem cair. Um dia, ele estava na fila do banco para pagar umas contas que nao estavam atrasadas. Sentiu uma dor no peito e nao teve fio que o salvasse. Caiu duro no mesmo chao que ele nunca imaginou que fosse cair. Quando a mae do equilibrista soube disso ficou muito brava com ele. Mesmo quando ele estava deitado no caixao ela nao parava de reclamar. "ja que tinha que morer porque ele nao caiu do alto dos arranha-ceus?"

O Diretor da Escola

12
Escrever e uma falta. E ir em busca do equilibrio. Os poetas sao equilibrados. Uma merda isso. E somente os poetas equilibrados sao dignos da escrita: “minha terra tem palmeiras onde canta o sabia, as aves que aqui gorjeiam nao gorjeiam como la”. Eu penso que esse poeta foi a pior merda que me fizeram sentar em cima. Nao que ele fosse ruim. Isso nao sei. Mas ele nao imaginava que seus versos fossem servir para fazer minha professora me encher o saco com eles. Ela me detestou quando eu mudei os versos e disse: “ minha terra tem poeiras aonde minha avo vai cheirar, as terras que a rodeiam nao a fazem espirrar!” Sem sentido. Coisa de moleque. Ela me mandou falar com o diretor da escola. Fui chorando. O diretor olhou para mim sorrindo e mandou que eu repetisse os versos da forma que eu os adaptara. Voltei para a classe cabisbaixo porque o diretor gostou de meus versos. Ele disse que eles mostravam o calor da terra. Que babaca!

A Unha Suja

11
A demonia disfarcada aparece em sua frente, na telinha virgem do microsoft word. “Vem” ela me diz. “Coloque seus dedos em suas teclas e me faca feliz.” Nas minhas teclas? Meu teclado? Ele esta todo cheio de sujidades do tempo e nao quero outro novo. Outro novo, nao. Quero o meu teclado sujo. Tem ate pentelho entre as teclas mas nos nos entendemos. Somos parecidos. Somos sujos. Sujeitos sujos com as coisas que aprendemos. A sujidade da vida. Imundice. “Ok”. “Certo” ela insiste.”Se nao fossem pessoas como voce eu nao teria razao de existir. Vem meu homem. Vem minha femea.” Minha femea? Ela nao sabe meu sexo, por isso ela nao vacila. Ela e o demo ou a demonia. Entao escrevo um monte de coisas que nao dizem pissiroca nehuma. Leio o que escrevi e nao gosto. Escrevo um "F O D A - S E" bem grandao e bem no meio da tela. Me veio a lembranca a unha suja do equilibrista cheia de coisa preta entre ela e a carne do seu dedo.

A Moeda Talvez

10
"O sexo e o corte." Nao sei se foi so o Caetano que inventou e disse isso. Talvez ele repetiu o que alguem tinha dito. Tanto faz. Nao sei se ele disse porque acha mesmo que e isso ou porque algum amigo lhe disse. Sabe como sao essas coisas? As vezes a gente pensa como um amigo pensa. As vezes a gente nao pensa, apenas repete o que o amigo diz. Coisa de bobo, nao? Nao sei. Mas de qualquer forma, nao concordo. O sexo nao e o corte. O corte sao outras muitas coisas. O sexo parece ser o corte. A moeda, talvez. O corte e o dinheiro, talvez. O corte e o acumulo de dinheiro. Pode ser. O Caetano, as vezes, fala umas coisas…O Caetano! Leia meu Blog e me escreva alguma coisa… por favor! Diga alguma coisa, ja que o que digo dizem que fica o dito pelo nao dito. Da vontade de escrever muito ate que eu chegue a algum lugar que nao seja o corte. Uma destentacao as avesas. E o demo e a demonia. O acougueiro e o mestre do corte da carne. Ele usa o cepo e o machado para cortar os ossos. O sangue e o tutano escorrem e parte deles somem nas veias abertas da madeira do cepo.

Vai te Catar Dona Vaca

9
A mulher tinha dito para o homem que ela era virgem. Ele ficou meio na desconfianca mas, sabe como e? Mandou ver. Uma vez, uma mulher me disse que era virgem. Eu, bobo, contei para um amigo. Ele morreu de rir. Quase se mijou de tanto rir. Eu perguntei como ele poderia saber se ela era virgem ou nao? A Mariazinha? Ora bolas! Disse mais. Disse que todas as mulheres se dizem virgens. E um comportamento generalizado. As mulheres nunca dizem aos homens que nao sao mais virgens. Eles nao devem perguntrar isso a elas. Se elas dizem isso expontaneamente, voce simplesmente nao da trela. A virgindade e uma coisa dos homens e as mulheres sabem disso. A religiosidade. A virgem Maria. Uma vez uma vaca disse a uma cacchorra que era virgem. A cachorra perguntou: “Virgem aonde? Na orelha? Vai te catar dona vaca. Isso e coisa dos homens”. A vaca cocou a arelha… E Maria foi concebida sem pecados. A Mariazinha?!!!

Acorda Menino!

8
Nosso destino e ser o fruto do ensinamento. “Come com a mao direita!” Mas pai… eu nao consigo… so consigo com a outra mao.” "Outra mao? Vou te dar uns bons tapas e voce vai ver se come como gente ou nao.” A lagartixa correu no forro da casa e o menino ficou olhando para ela. “Merda“, pensou. “Se pego essa lagratixa ela vai ver so o que faco com ela. Quero cortar seu rabinho ve-lo dancando sobre a toalha da mesa. A lagratixa nao usa as maos para comer. A gente devia enfiar a cara na comida como as lagartixas fazem. E se eu colocar o rabinho dela, ainda mexendo, na sopa do meu pai? Assim quem sabe ele acorda." “Acorda menino! Ta pensando no que? Agora e hora da comida e nao hora de ficar olhando pro ceu.” “Mas nao tem ceu aqui dentro de casa!” Baf! “Ai pai! O que que eu fiz?” “ Cala a boca e come com a mao certa. Ja te disse!”

Friday, June 30, 2006

A Doutrina da Obediencia

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“Tudo o que penso que sei, veio de algum lugar, certo? Nao inventei as palavras e nao inventei os pensamentos. Sempre me ensinaram como deveria pensar. Fui a escola para isso. Meus pais queriam que eu aprendesse a pensar. Senao eu seria um “nao sei o que na vida”. Queriam que eu fosse um bom aluno. Um dos primeiros da classe. Isso seria o sinal de que eu aprendera a lidar com as coisas que a escola me fornecia. Aprendia a pensar. Assim, quando a vida viesse com essas mesmas coisas, eu, que tinha sido um bom aluno, saberia como responder tudo o que me perguntassem. Pois e. Assim, aprendi a pensar mais ou menos. Nunca fui um bom aluno porque nao gostava das coisas que a escola ensinava. Mas, eu tinha que obedecer aos meus pais que me ensinaram, antes da escola, que deveria obedece-los”. Disse o menino algemado enquanto uma lagrima corria em sua face. Ele havia acabado de matar a sua mae.

O Fio de Nylon

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O inferno faz vento e dizem que foi a natureza quem fez. Dizem que a natureza sabe o que faz. Que a natureza e a mae das coisas. Mentira. A mae e o inferno. O inferno e que manda. O inseguro. O desequilibrio. O honesto. O vento veio do inferno que queria que o homem da corda bamba caisse. Coisa natural? Sim. Mas isso nao aconteceu. O homem estava protegido por um fio muito fino de nylon transparente que o seguraria, sao e salvo, no caso de um vento inesperado lhe desequilibrar. Ta certo que o fio de nylon quase lhe cortou o saco e entrou um montao em sua bunda. Mas ele fugiu meio manquitolando, sao e salvo, porque a multidao queria seu pagamento por ter sido enganada. Queiram fazer um massacre. Fariam com ele aquela bola recoberta de merda, com as proprias maos. Mesmo que aquele espetaculo fosse gratuito. Mesmo que o homem nao havia cobrado ingressos. Nada mais importava porque aquele vento so veio para isso. A demonia e sabia.

Wednesday, June 28, 2006

A Mae do Equilibrista

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O universo e desequilibrado. Senao, as coisas nao seriam assim. Tudo seria normal. E a normalidade e uma coisa muito ruim. O equilibrio e uma merda. So buscamos o equilibrio para no fim provar, para nos mesmos, que nao estavamos certos. Imagine uma pessoa andando em uma corda bamba. La em cima entre dois arranha-ceus. Qual e a graca? So tem graca se ele cair. Mas ela sabe que nao vai cair. Ele sabe o que esta fazendo. A sua vida e mostrar as pessoas que ele nao cai. Mas, um dia, o vento veio de surpresa. De repente uma golfada. As pessoas na terra imediatamente, seguraram seus chapeus. Por uma fracao de segundo se esqueceram do homem la em cima. Mas na fracao de segundo seguinte, olharam para o alto certos de poder ver o homem vindo em direcao do chao se transformando em uma bola de carne, ossos, sangue e merda. Aiiiiiiiiiiii. Pof! Todos fecham os olhos nessa hora. Menos a mae do equilibrista. Puta.

Voo de Costas

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Fiquei pensando que a natureza de todas as coisas provem do universo desequilibrado. A natureza nao e equilibrada. O inferno sim. Fiquei pensando que uma maneira ruim de se conhecer o inferno e atravez dos jornais. Eles so dizem abobrinhas. Abobrinhas. Merdas. Entao, os livros? Tambem e uma maneira ruim. Segundo Raul, os livros servem so pra quem nao sabe ler. O nada. Ja pensou em ter uma conversa sobre o nada dentro daquele belo iate? Sobre o nada mesmo. O vazio. Uma conversa que voa de costas. Ou voa ao contrario como o passaro Gufos, dos seres imaginarios, do Borges, aquele maluco, sem pe e sem cabeca, que disse que os Gufos sao passaros que voam para tras porque nao importa aonde eles irao mas sim aonde eles estiveram. Sera que e isso mesmo que o Borges escreveu? Cara doido, nao? Devo parar de pensar na natureza das coisas e no universo desequilibrado. Senao vou voar de costas e a policia vai desconfiar de mim. Nadar de costas pode. Voar nao. Mesmo que seja em direcao do ceu.

Tuesday, June 27, 2006

O Portao do Bill

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O microsoft word e a capeta disfarcada. Ela te fala: vem escreve em mim! No comeco, voce refuga um pouco mas, logo depois, fica maluco vendo aquela linda telinha branca se arregacar ante seus olhos. Suas maos, tremulas, comecam devagar a quebrar a sua virgindade. Ela sempre diz que e virgem. Desvirgina, depois edita e as vezes, imprime. Um miche barato. A capeta chama o dinheiro de bill. A conta. A nota. Ela abriu alguns portoes por onde esses bills desses miches ( que viram hiper-surubadas na universalidade da internet ) atravessam e queimam no fogo do inferno. Esse lugar e conhecido como o portao do Bill. Or the gate of the bill. Ou o Bill do Gates, eu nunca sei ao certo. So sei que e o lado de tras da telinha do microsoft word, essa capeta arrombada mas disfarcadinha de virgem. Ave Maria de tras-pra-frente. A capeta faz milhoes de miches todos os dias. Cruz-credo-Ave-Maria como diria o Ze SimNao.

Sangue de Boi

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O inferno deve ser um lugar muito bom. Se tivesse um jeito de enfiar a cabeca dentro da minha telinha e se misturar com aquele dinheiro todo, talvez eu pudesse chegar ate la. Junto com a capeta. Cair dentro de um iate com todas as coisas boas que o inferno deve ter. Sofas de couro azul para nao dizer que estao abusando dos bois que nao sao azuis. Talheres de ouro verde para nao dizer que estao esbanjando a toa enquanto parte do mundo morre de fome. Conversas sobre o nada, a parte mais cara e a mais evidente de que o inferno e o lugar aonde deveriamos todos estar. Vinhos! Vinho bom e coisa da demonia? Sangue de boi. Chapinha, meu chapa. Sera que esses caras ja tomaram um desses? Naquele iate, nunca! Ali e o inferno e esse vinhos so tem na terra dos simples mortais. Nos bares das prostitutas. Tenho certeza que ali e o inferno verdadeiro. O unico. Mas vou continuar procurando por outros. Sangue de Boi e de Vaca.

O Homem Injuriado

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Genesis. No comeco era a lux. Mentira. Vou contar para voces como essa mentira vem sido repetida desde o comeco. Contar como a lux apareceu e uma coisa facil de se entender. Uma historia mais ou menos assim: a lux e contraria ao escurix. Imagine. No comeco era o escurix, depois apareceu a lux. Iluminando onde? Iluminando o que? A escuridao do universo? O nada. O que a lux iluminava, po? Nao sei nao. O que eu quero contar para voces e como a lux entrou sem pedir licensa e desfez o genesis do casal em caricias no quarto escuro. Alguem chegou quietinho e, pim!, ascendeu a lux. O homem, injuriado, gritou: apague a porra dessa luz, seu filho duma puta! A mulher, envergonhada, procurou o lencol que estava enroscado no pe da cama e que nao desenroscava de jeito nenhum. A camera mostrou a face da mulher. Deveria mostrar os peitos. Porra! Genesis. No comeco era o escuridao. O fim de tudo. O fim era apenas o comeco. No comeco era a escuridao e nao a Luz.