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O menino pediu um copo d’agua. O guarda sugou o nariz duas ou tres vezes. Depois, enxugou o resto da baba que estava mais embaixo com o lado da mao e olhou para o lado da cela como se nao tivesse entendido o que o menino havia dito. O menino lambeu os beicos ressecados. Ele estava preso ha muitas horas. Sentia uma calor que nascia debaixo de sua lingua. No fundo do pescoco. Pensou na Perua. Ela tinha uma coisa vermelha que ficava pendurada no pescoco como se fosse uma renda portuguesa. Mas nao era um pedaco de renda. Era um tecido vivo e cheio de sangue. Quando ele olhava aquela coisa enrugada, bem de perto, podia perceber as veias aonde o sangue corria bem ligeiro. Ele pensava que se alguem pudesse esticar aquela massaroca de coisa esquisita ela aumentaria um metro ou mais. A perua nao se importava com aquilo que tinha em baixo do pescoco. Talvez por isso ela era interessante. Nao se importava com a sua papada, enrugada, vermelha e esquisita. Pensou que talvez aquela sede faria crescer uma papada igual a da perua.
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