TEXTICULOS sao relatos explicitos de tudo aquilo que estava implicito. Nao saia desse blog antes de deixar um comentario. Mesmo que seja para me mandar a merda. Valeu.

Thursday, November 30, 2006

Agua Limpa

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A capeta estava indignada. Ficou tao brava que se fechou em seu canto e nao queria falar com ninguem. Foi com muito custo consegui que ela se abrisse. “Nao fizeram portas de emergencia na cadeia nova!” desabafou. “se pegar fogo nao se salva ninguem! Todos os presidiarios vao morrer queimados!” Eu fiquei pensando nisso por um tempo. Conclui que se fizessem portas de emergencia na cadeia os presos poderiam fugir facilmente. E fiquei na duvida. A capeta percebeu minha ignorancia e ficou mais emburrada ainda. Pensei que os presos colocariam fogo nos colchoes e assim seria facil fugir. Sera que tem splinklers? Sera que tem agua? Mesmo para beber? Agua limpa? Entao porque o guarda nao deu logo agua para o menino que estava preso? Sera que o engenheiro que fez o projeto nao pensou nisso? A capeta deu uma risada. Disse que no iate tem saida de emergencia ate de helicoptero. Que o bebado quando cai do iate, cai no mar limpo e calmo do Caribe. Que quando um preso fica doente o medico so remedio vencido. O medico e o engenheiro tem sempre pressa quando se trata de cadeia porque os iates estao sempre deixando o porto. Nos iates tem agua limpa. Perrier. San Pelegrino. Austin. Evian. Spring Ice. Lindoia nao tem.

Wednesday, November 29, 2006

Andando e Cocando a Bunda

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Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda. Andando e cocando a bunda.

Tapao de Mao Aberta

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O neguinho filho da comadre Bastiana saiu para passear com ex-minha bike. Minha me deu a minha bike para ele. De presente. Merecido.(?) Ele colocou uma bandeirinha do Corinthians no guidao para ela ficar mais bonita. Pintou uma faixa branca no lado de fora dos pneus. Ele descia a rua rampada sem segurar no guidao. Pedalava e assobiava. La em baixo, o guarda viu o neguinho. O guarda tambem tinha sido neguinho mas agora usava uma farda. Fez sinal para o neguinho parar. O neguinho pedalou firme para tras, fincou o pe, e zas! a bike cantou o pneu, derrapou um pouco de lado e parou junto ao guarda. “Desce!” gritou o guarda. “Cade os documentos? RG ou qualquer um que tenha foto. Quero ter certeza de que essa bike nao foi roubada.” “Essa nao foi nao” disse o neguinho “essa foi um presente da minha madrinha. O filho da minha madrinha nao ligava pra ela. Ele e rico e devia ter muitas outras coisas com que brincar.” O guarda imaginou o neguinho pulando o muro da casa e jogando a bicicleta para o outro lado. Ele iria ser promovido a tenente no proximo mes. Ajeitou o quepe e, de supetao, deu um tapao de mao aberta na orelha do neguinho e fez sinal para ele seguir em frente. A orelha do neguinho chiava enquanto ele pedalava. Infelizmente deve ter sido assim. Infelizmente.

Wednesday, November 22, 2006

Deus Comeu Rapadura

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Acho que Deus comeu rapadura. Os pedacinhos da rapadura sempre acham os buraquinhos nos dentes das pessoas para doer. Da mesma forma, as palavras acham os buraquinhos de nosso cerebro para ficar incomodando. Lembro do verso de uma unica palavra do Mellarmezinho e, mais ainda, da palavra que estava tatuada no tronco da arvore. Era um nome. O nome do filho do pai que era o homem que queria cortar a arvore. O mesmo filho que havia matado a mae com seis tiros na cabeca no dia de Pascoa. O homem se lembrou de quando ele batia no filho so porque ele nao comia com a mao direita. Inadimissivel! Se nao interferisse naquela situacao o menino poderia se tornar um esquerdista nato. Por isso ele batia. Nao foi por mal. Imaginou o menino enforcado no galho da arvore. Um fio sangue brotava do pescoco, embaixo da corda, e descia bordando a camisa ate terminar, fininho, numa gota que se coagulara antes de pingar. O homem sorriu entre as lagrimas ao pensar que Deus estava com dor de dentes encolhido nos confins do universo escuro e geladinho. "Rapadura e' como queijo duro: nao e mole. E macarronada nao e sopa". Concluiu.

Tuesday, November 21, 2006

Afinal Ele Era Deus

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Deus estava com dor de dente. A capeta me contou que no principio Deus era homem. Que era uma pessoa mais ou menos desequilibrada quando era moco. Depois enquanto foi crescendo aprendeu as coisas da igreja. Depois foi ficando cada vez mais rico e mais poderoso ate que um dia se tornou o presidente do pais mais poderoso do mundo. Dai pra se tornar Deus foi apenas um passo. Por isso comecou a matar gente. Somente para manter seus exercitos treinados. Afinal ele era Deus. Mas tinha uma coisa que o incomodava muito. Ele nao conseguia fazer nada de bom. Tudo o que ele gerava era odio ou tristeza. Um Deus poderoso mas incompetente. Um Deus de merda. E assim continuou sua carreira ate que a eternidade o consumiu. Agora ele estava com dor de dente mas nao ha dentista que possa ajuda-lo porque ele tem pavor do motorzinho e do boticao. Sentado num canto de uma galaxia chora baixinho enquanto a capeta sorri me contando essas coisas. Ela desbochava daquele Deus. Alguns ricos depois que morrem viram Deuses. A capeta so existe enquanto existe grana e iates. Ela nao tem medo de dentista por que o anestesico dos ricos sempre funciona bem.

Monday, November 13, 2006

O Soluco do Homem

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Alguem prendeu uma palavra no tronco de uma arvore. Com um canivete rasgaram a casca e desenharam as letras que fizeram o tronco sangrar uma seiva transparente e gelatinosa. Depois de um tempo a seiva secou e a casca cobriu parte da palavra formando uma cicatriz que emoldurou em alto relevo sobre o baixo relevo das letras cravadas. O homem chegou com a motoserra em punho. Deu um tranco para que o motor funcionasse e a corrente rodou forte desaparecendo em seu proprio giro. O homem ja havia escolhido a posicao de corte e quando levantou a lamina leu a palavra cicatrizada na arvore e deixou o braco cair para tras. Olhou horrorizado para a arvore enquanto lagrimas escorriam de seus olhos. Olhou para a serra em suas maos e a atirou para longe. A serra afundou na terra do chao chiando e levantando poeira ate se enroscar em si mesma e silenciar. Dai em diante so se podia ouvir o soluco do homem parado em frente a arvore que iria derrubar. A palavra se soltou do tronco e se cravou na testa do homem pelo lado de dentro.

Massaroca de Coisa Esquisita

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O menino pediu um copo d’agua. O guarda sugou o nariz duas ou tres vezes. Depois, enxugou o resto da baba que estava mais embaixo com o lado da mao e olhou para o lado da cela como se nao tivesse entendido o que o menino havia dito. O menino lambeu os beicos ressecados. Ele estava preso ha muitas horas. Sentia uma calor que nascia debaixo de sua lingua. No fundo do pescoco. Pensou na Perua. Ela tinha uma coisa vermelha que ficava pendurada no pescoco como se fosse uma renda portuguesa. Mas nao era um pedaco de renda. Era um tecido vivo e cheio de sangue. Quando ele olhava aquela coisa enrugada, bem de perto, podia perceber as veias aonde o sangue corria bem ligeiro. Ele pensava que se alguem pudesse esticar aquela massaroca de coisa esquisita ela aumentaria um metro ou mais. A perua nao se importava com aquilo que tinha em baixo do pescoco. Talvez por isso ela era interessante. Nao se importava com a sua papada, enrugada, vermelha e esquisita. Pensou que talvez aquela sede faria crescer uma papada igual a da perua.

Sunday, November 12, 2006

Carcaca de Lesma

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Estive lendo o Ze Simao. Poeta. E bom poeta. Parece que as suas rimas nao escorregam em seus versos.? Nao entendi. Explico-me. Parece que existe uma afinidade unica, intrinsica, como se existisse uma gosma melecada em um escorregador. Um liso escorregador mas que nao escorrega. Pode? Pode. Como se uma lesma descendo nesse escorregador. Ela deveria escorrregar, porque tudo escorrega na superficie lisa, mas, ao contrario, a lesma se segura mesmo sem ter maos. Imagino a gosma melecando sua barriga. A gravidade puxa a lesma para baixo mas ela nao desce. Da mesma forma, os versos do Simao nao vao assim de supetao. Eles ficam parados na rampa lisa de nossa imaginacao e somente depois de salgar a lesma, esperar que o sol a seque, e que sua carcaca comeca a descer, devagar, deixando a gravidade ficar convencida de seu poder. Mas, no final das contas, quando seus versos descem como carcaca de lesma, suas ideias sobem junto com as volatilidades que secam ao sal e ao sol do deleite desse poeta desequilibrado em tudo aquilo que escreve. Nao sei se era bem isso que eu queira dizer. Xi. Acho que si enrolei.

Friday, November 03, 2006

Apenas Contei um Fato

30

Devo confessar que estava distraido. Na verdade, estava pensando em alguma coisa que acabara de ler na telinha do meu computer. De repente deu um “vap”e a sua cabeca cresceu para fora da tela em minha direcao. A capeta em pessoa. Ela estava furiosa. Demente. Queria ter uma conversa de “pe-de-orelha” comigo. Queria saber de onde eu havia tirado a ideia de que o pai do equilibrista havia morrido de uma queda na fila do banco. “Isso nao e verdade” ela bradou em voz rouca e vermelha. “Mas... que diferenca isso faz? Perguntei timidamente. “Que diferenca? Voce nao sabe? Ele era o equilibrista pai. Que ensinou o filho. Que deu sustento a sua familia com sua profissao. Como pode ter caido no chao frio de marmore do banco sem ao menos rachar a cabeca?” Dei um empurrao na cabeca da demonia e fiz com que ela voltasse de onde tinha vindo. “Sera que nao tinha nada melhor para fazer?” Pensei. Na verdade, nao fui eu quem tirou essa ideia de lugar algum. Eu apenas contei um fato inveridico ( antes de ser contado ) mas que depois de consumado capeta nehuma podera muda-lo.

Lo Accidente

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um dia troquei minha bike por uma moto. bike nova, moto véia, foi na oreia.minha mãe disse que ia ser dor de cabeça, mas nunca imaginei que doesse tanto. problemas mecanicos, manutenção e peças descontinuadas. nada disso. a cabeça bateu foi no meio fio. o capacete segurou um pouco mas o trauma aconteceu. a moto se foi e a bike tambem. minha cabeça nunca mais foi a mesma. ficou um calombo dum lado. ficou um buraco do outro. ainda penso, mas não me lembro de como pensava antes para comparar.minha mãe sempre diz a verdade e o pé da letra é simplesmente implacavel comigo.Palavras de Zakale escritas em www.zakale.blogspot.com

Eu tambem tive uma bike. Ela tinha o freio no pe. Era uma Husqvarna, Theca. Um dia o afilhado da minha mae, um neguinho filho da comadre Bastiana, viu minha bike no quintal e pediu ela a minha mae. Minha mae deu. Minha cabeca nunca mais foi a mesma. Sofro disso ate hoje. Nao sei dizer se por isso a vida do neguinho foi melhor dai em diante. A minha foi so lembranca de minha bike de breque no pe e de muitas derrapadas no asfalto novo da rua aonde eu morava. Acho que ficou um calombo de um lado e um buraco do outro por dentro de minha cabeca.

Uma Forcinha

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A capeta estava amuada. Sentada na sargeta, parecia que estava querendo chorar. “Ola Dona capeta” arrisquei puxar conversa. “Parece que nao esta muito legal hoje!? O que que ha?” “Nao esta vendo?” respondeu com uma voz miuda. “To tediosa. Nao to tendo muito o que fazer.” “ Nao tem o que fazer? Como assim?” insisti. “Nao esta sobrando muito coisa para eu fazer. As desgracas por si so estao pululando em toda a parte. Virou rotina. As criancas morrendo de fome e de guerra. Uma beleza, mas… enfim, a coisa ta de um jeito... tudo prontinho.” afirmou desolada. “Sei... entendi… deixa eu ver… quem sabe eu posso te dar uma forcinha. E se voce fizesse, de repente, alguns pobres se tornarem ricos? Nao precisa ser muitos. Assim: voce da riqueza a eles e em troca eles vao menosprezar, maltratar e ignorar os antigos amigos.” Seus olhinhos brilharam.”Sera?” “Pois e.” Completei. “Ai e que esta a graca da coisa. Eu aposto com voce que eles vao se tornar ricos, neo-liberais, e vao se esquecer de todo o resto.” “ok…” disse a capeta.. ”vou tentar” Desamuou.